As máscaras higiênicas descartáveis são o novo lixo dos oceanos. No litoral do Rio de Janeiro, o mais recente item usado nos novos tempos está se tornando corriqueiro encontrá-las boiando nos mares ou jogadas pelas praias.
Formado em biologia marinha pela UFRJ e diretor do Instituto Mar Urbano, o fotógrafo Ricardo Gomes registra a biodiversidade marinha do Rio há mais de 20 anos e esteve, nas últimas terça e quinta-feira, nas praias da cidade e na Baía da Guanabara. Em Ipanema, registrou máscaras descartáveis boiando na água.
“Desde que liberaram o banho de mar e as atividades aquáticas tenho visto essas máscaras. E isso porque o que a gente enxerga na superfície é só 15% do que a gente vê de lixo oceânico. Se a gente encontra algo boiando, essa é só a ponta do iceberg.”
Durante a última semana, uma equipe do Extra também encontrou máscaras descartadas nas areias da Enseada de Botafogo.
Elas são vistas com frequência no Arpoador, quando chegam ao vórtex das correntes e afundam no leito do mar, ficando presas na arrebentação para, depois, aparecem nas areias.
Na chamada “praia do plástico”, na Ilha do Fundão, as máscaras também podem ser vistas na beira da areia junto com detritos que invadem a praia da baía. Áreas de manguezal e as praias da Ilha do Governador são os lugares onde esse lixo mais costuma se acumular.
30 anos, o plástico já virou o item mais visto nos mergulhos marítimos, mas desta vez é como se, de uma vez só, tivesse surgido uma “espécie nova” de lixo no ambiente aquático. A tartaruga-marinha e os peixes já devem estar comendo as máscaras porque elas lembram muito uma água-viva — completa Gomes.
O ambientalista Sérgio Ricardo Verde, membro-fundador do Movimento Baía Viva, cita que, apesar de as informações ambientais serem uma “caixa preta” no Rio, sabe-se que, pelo menos até a Olimpíada na cidade, em 2016, a quantidade de lixo flutuante era de 90 toneladas. No dia 30 de março, início da pandemia, o instituto fez uma denúncia aos Ministérios Públicos federal e estadual, gerando inquéritos sobre o risco da infecção nas estações de esgoto, pedindo um plano de contingência.
— A responsabilidade de tirar esse lixo do ambiente é da indústria, que tem que financiar a coleta seletiva, mas isso não acontece. Até hoje, 12 operários da Cedae morreram de Covid-19 e há centenas de infectados. Enquanto esse problema afeta os pobres, ninguém toma providência — diz Sérgio Verde.
A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) orienta que máscaras e luvas devem ser descartadas no lixo sanitário e no lixo comum. Elas devem estar depositadas de forma que garis não tenham contato direto com o material. Também vale lembrar que, se a pessoa estiver fora de casa, o ideal é guardar a máscara usada em um saco plástico, até que possa depositá-la no lixo de casa.
Não se sabe qual o aumento do descarte específico de máscaras descartáveis no Rio. Porém, o lixo doméstico teve aumento de 60%. (Extra)