Entidades do sistema financeiro defendem atuação do Banco Central no caso Banco Master

© Marcello Casal JrAgência Brasil

 

Nota conjunta ressalta independência técnica do BC e alerta para riscos de instabilidade regulatória diante de questionamentos sobre a liquidação da instituição

 

 

Quatro entidades que representam bancos, financeiras e fintechs divulgaram neste sábado (27) uma nota conjunta em defesa da atuação do Banco Central (BC) no processo de liquidação do Banco Master. O documento pede a preservação da autoridade técnica e da independência institucional do regulador, em meio a questionamentos sobre as decisões adotadas no caso.

No comunicado, as entidades afirmam que a existência de um regulador técnico e independente é um dos pilares para a manutenção de um sistema financeiro sólido e resiliente. Segundo a nota, o Banco Central tem exercido esse papel por meio de uma “supervisão bancária atenta e independente, de forma exclusivamente técnica, prudente e vigilante”.

As associações alertam ainda para os riscos de uma eventual revisão das decisões técnicas do regulador por outros órgãos. De acordo com o texto, essa possibilidade colocaria o país em um “terreno sensível de instabilidade regulatória e operacional”, com impactos negativos sobre a segurança jurídica, a previsibilidade das decisões e a confiança no sistema financeiro.

Assinam a nota a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), a Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Zetta, entidade que representa empresas do setor financeiro e de meios de pagamento. Juntas, as associações representam mais de 100 instituições, cerca de 90% do setor financeiro e 98% dos ativos do sistema.

Atuação preventiva do BC

O documento reconhece que o Poder Judiciário tem o papel de analisar os aspectos jurídico-legais da atuação do Banco Central, mas defende que o mérito técnico das decisões prudenciais seja preservado. Para as entidades, o enfraquecimento da autoridade do regulador pode gerar impactos negativos para a economia e aumentar os riscos para depositantes e investidores, especialmente pessoas físicas.

As associações destacam que a supervisão do BC atua de forma preventiva, garantindo que bancos e demais instituições mantenham níveis adequados de capital e liquidez, além de políticas de risco compatíveis com seus modelos de negócio. Como exemplo, citam o baixo número de instituições com problemas de solvência nos últimos anos, inclusive durante a crise financeira de 2008 e a pandemia de covid-19.

Em nota separada, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) também manifestou apoio à autonomia do Banco Central. A entidade afirmou que decisões de liquidação são técnicas, baseadas em critérios prudenciais, e que uma eventual reversão comprometeria a confiança nos pilares do sistema financeiro.

Acareação no STF

As manifestações ocorreram no mesmo dia em que o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a realização de uma acareação no inquérito que apura irregularidades envolvendo o Banco Master. A audiência está marcada para a próxima terça-feira (30) e deve reunir o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos, o controlador do banco, Daniel Vorcaro, e o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa.

A acareação tem como objetivo confrontar versões sobre a atuação do Banco Central e sobre indícios de fraude na tentativa de venda do Banco Master ao BRB. O processo corre sob sigilo no STF, após Toffoli avocar o caso, que tramitava na Justiça Federal de Brasília, a pedido da defesa de Vorcaro.