
Crédito ao consumidor fica mais caro, enquanto custo para empresas tem leve alívio; cenário reflete ciclo de alta da Selic e impacto no endividamento das famílias
As taxas médias de juros cobradas pelos bancos subiram para as famílias e caíram para as empresas em novembro, segundo as Estatísticas Monetárias e de Crédito divulgadas nesta sexta-feira (26) pelo Banco Central (BC). O movimento acompanha o atual ciclo de elevação da taxa básica de juros da economia, a Selic, fixada em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006.
No crédito livre para pessoas físicas, os principais aumentos ocorreram no crédito pessoal não consignado, cuja taxa avançou 5,5 pontos percentuais (pp) e chegou a 106,6% ao ano, e no cartão de crédito parcelado, que subiu 3,2 pp, alcançando 181,2% ao ano. Já o cartão de crédito rotativo, uma das modalidades mais caras do mercado, teve alta de 0,7 pp no mês, chegando a 440,5% ao ano, apesar da limitação de juros em vigor desde janeiro do ano passado.
Mesmo com essa restrição, o BC explica que os juros do rotativo continuam elevados porque a medida não interfere na taxa pactuada no momento da contratação. O crédito rotativo ocorre quando o consumidor paga apenas parte da fatura do cartão, transformando o saldo restante em empréstimo. Após 30 dias, a dívida é automaticamente parcelada, modalidade que, apesar da alta em novembro, ainda acumula queda de 2 pp em 12 meses.
Com esses movimentos, a taxa média de juros das concessões de crédito livre para famílias subiu 0,9 pp em novembro, acumulando alta de 6,2 pp em 12 meses e atingindo 59,4% ao ano. No caso das empresas, houve redução de 0,6 pp no mês, embora os juros ainda apresentem alta de 2,8 pp em 12 meses, chegando a 24,5% ao ano. Destacam-se as quedas nas taxas de desconto de duplicatas e recebíveis, que recuaram para 19,3% ao ano, e nas operações de capital de giro com prazo superior a 365 dias, que ficaram em 21,8% ao ano.
Considerando recursos livres e direcionados, a taxa média geral de juros das concessões atingiu 31,9% ao ano em novembro, com leve alta mensal de 0,1 pp e aumento de 3,5 pp em 12 meses. No crédito direcionado, destinado a áreas como habitação, agricultura e infraestrutura, as taxas ficaram estáveis para pessoas físicas, em 10,9% ao ano, e caíram para empresas, chegando a 11,8% ao ano.
O spread bancário, que mede a diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros cobrados dos clientes, também aumentou: alta de 0,3 pp no mês e de 2,5 pp em 12 meses, refletindo custos operacionais, riscos de inadimplência e carga tributária.
Em novembro, as concessões de crédito somaram R$ 637,5 bilhões, com recuo de 6,6% em relação ao mês anterior. O estoque total de crédito do Sistema Financeiro Nacional alcançou R$ 6,971 trilhões, crescimento de 0,9% no mês, mas com desaceleração no ritmo anual, que passou para 9,5%.
No campo social, os dados mostram aumento do endividamento das famílias. A inadimplência ficou em 3,8%, sendo 4,7% entre pessoas físicas. O endividamento familiar atingiu 49,3% da renda acumulada em 12 meses em outubro, enquanto o comprometimento da renda com dívidas chegou a 29,4%, evidenciando os efeitos do crédito mais caro sobre o orçamento das famílias brasileiras.









