
Imunizante de dose única desenvolvido pelo Instituto Butantan será incorporado ao SUS e começa a ser aplicado em janeiro
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assinou nesta sexta-feira (19), em São Paulo, o contrato para a aquisição das primeiras doses da vacina contra a dengue produzida pelo Instituto Butantan. O acordo, no valor aproximado de R$ 368 milhões, marca o início da incorporação do imunizante ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A vacina, batizada de Butantan-DV, teve o registro aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início deste mês e é o primeiro imunizante contra a dengue de dose única no mundo. Desenvolvida para aplicação na população entre 12 e 59 anos, a vacina utiliza a tecnologia de vírus vivo atenuado e é resultado de uma parceria entre o Instituto Butantan e a empresa chinesa WuXi Vaccines, articulada pelo Ministério da Saúde.
Nos próximos dias, o Butantan deve entregar 300 mil doses ao ministério. Elas serão destinadas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) para a vacinação de voluntários que participaram dos estudos clínicos e também para campanhas em municípios selecionados, como Botucatu (SP) e Maranguape (CE). Há ainda a possibilidade de inclusão de Nova Lima (MG), onde serão realizados estudos para avaliar o impacto da vacinação em massa. A expectativa do governo é que as aplicações comecem entre os dias 17 e 18 de janeiro.
Segundo Padilha, a estratégia inicial permitirá avaliar os efeitos da vacinação em larga escala no controle da doença. “Estudiosos apontam que vacinar entre 40% e 50% da população pode ter alta capacidade de controle da infecção e dos quadros epidêmicos. Vamos acompanhar o impacto nessas cidades por um período de anos”, afirmou.
Até o fim de janeiro, o Instituto Butantan deverá entregar mais 1 milhão de doses, que serão usadas para imunizar profissionais da Atenção Primária à Saúde, incluindo equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e trabalhadores que atuam em visitas domiciliares. De acordo com o diretor do Butantan, Esper Kallás, a produção deve ser ampliada, com expectativa de crescimento significativo a partir do segundo semestre de 2026, quando até 30 milhões de doses poderão ser entregues ao Ministério da Saúde.
Conforme novas remessas forem disponibilizadas, a vacinação será ampliada para o público geral. A campanha deverá começar pelos adultos de 59 anos e avançar gradualmente até alcançar os jovens de 15 anos. Atualmente, adolescentes entre 10 e 14 anos já estão sendo vacinados com outro imunizante, desenvolvido pelo laboratório japonês Takeda, aplicado em duas doses. Desde 2024, mais de 7,4 milhões de doses dessa vacina já foram administradas no país, e o governo federal garantiu a compra de mais 9 milhões de doses para 2026.
Os idosos acima de 60 anos ainda não serão vacinados com a Butantan-DV, pois os estudos clínicos não incluíram esse público. Segundo o instituto, as pesquisas com essa faixa etária devem começar em janeiro.
Durante a assinatura do contrato, Padilha reforçou a segurança do imunizante e destacou os resultados obtidos nos estudos clínicos. De acordo com a Anvisa, a vacina apresentou eficácia global de 74,7% contra a dengue sintomática na população de 12 a 59 anos, além de 89% de proteção contra formas graves da doença e casos com sinais de alarme, conforme publicação na revista científica The Lancet Infectious Diseases. Mais de 70% das pessoas vacinadas não apresentaram sintomas da doença, e nenhuma precisou ser hospitalizada por dengue.
Em 2024, o Brasil registrou 6,5 milhões de casos prováveis de dengue, quatro vezes mais do que no ano anterior. Em 2025, até meados de novembro, foram notificados 1,6 milhão de casos. Apesar da redução recente, o ministro alertou que a vacinação não substitui as ações de prevenção. “A vacina é uma arma poderosa, mas não é motivo para baixar a guarda no controle dos criadouros do mosquito”, afirmou.
Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a dengue provoca sintomas como febre alta, dor no corpo, dor atrás dos olhos, manchas na pele e cansaço intenso. Além da imunização, o combate aos focos de água parada segue sendo uma das principais estratégias para conter a doença no país.










