Menopausa atinge mais de 30 milhões de brasileiras

Foto de Sydney Sims na Unsplash

Em pouco mais de um século, a longevidade feminina saltou de forma histórica: a expectativa de vida das brasileiras aumentou 2,5 vezes — de 33,7 anos em 1900 para os atuais 79,9. O resultado é que a maioria das mulheres passa, hoje, cerca de um terço da vida na menopausa ou em sua fase de transição, o climatério. Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiras estejam vivendo esse período, muitas vezes sem acompanhamento adequado — cenário que, segundo parlamentares como Rafael Prudente, revela a urgência de políticas públicas mais robustas para essa população.

A jornalista Maria Cândida sentiu o impacto de forma inesperada ao entrar na perimenopausa.
“Foi um furacão, uma tempestade, um chacoalhão”, relata. Ela descreve uma exaustão profunda: “Tinha uma exaustão tão grande que eu queria ficar deitada no sofá.” Irritabilidade, insônia e perda de libido foram alguns dos sintomas mais intensos.

Experiência semelhante viveu Adriana Ferreira, presidente do Instituto Menopausa Feliz.
“No meu prontuário era colocado ‘mulher poliqueixosa’. Nunca tinha ouvido a palavra climatério”, afirma. Tanto ela quanto Maria Cândida encontraram melhora com a Terapia de Reposição Hormonal (TRH), recomendada pela FEBRASGO conforme o perfil de cada paciente.

A ginecologista Beatriz Tupinambá explica que o melhor momento para iniciar o tratamento é ainda no climatério, antes da menopausa se instalar. Ela destaca que os sintomas visíveis são apenas a ponta do iceberg: “Há perda óssea, risco cardiovascular e aumento da hipertensão. Depois da menopausa, duas mulheres enfartam para cada homem.”

Menopausa precoce: impacto emocional e desconhecimento

A menopausa precoce, que afeta cerca de 1% das mulheres, costuma trazer choque e dúvidas. A atriz Julieta Zarza, diagnosticada aos 37 anos, relata: “A minha sensação foi que havia um carimbo na testa: data de validade vencida.” A confeiteira Nayele Cardoso, que recebeu o diagnóstico aos 27, lembra que a primeira informação médica foi dura: “A única coisa que a médica disse foi que eu não ia poder ter filhos.”

Segundo a clínica geral Andrea Alvarenga, fatores genéticos, cirurgias, quimioterapia e doenças autoimunes podem antecipar o fim da vida reprodutiva.

Impacto no trabalho e na vida social

Um estudo da consultoria Korn Ferry, com mais de 8 mil mulheres de três países, mostrou que 47% sentiram queda de desempenho no trabalho durante a menopausa.
“Os três sintomas mais presentes eram estresse, dificuldade de concentração e perda de paciência”, afirma Adriana Rosa, sócia da empresa.

Rede pública ainda é limitada

Embora a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (2004) oriente o cuidado no SUS — e esteja em atualização — ainda há lacunas.
“Não temos tantas ações voltadas para mulheres na transição da menopausa”, diz Maria Teresa Rossetti Massari, da Fiocruz.

O Ministério da Saúde afirma que a atenção primária oferece consultas, exames, medicamentos e práticas integrativas, encaminhando os casos mais complexos para especialistas.

Uma das principais referências no país é o Hospital das Clínicas da USP, onde a demanda é alta.
“Durante a semana, chego a ter de 90 a 120 atendimentos”, relata José Maria Soares Júnior, chefe do Ambulatório de Climatério. O HC também oferece exames e terapia hormonal dentro dos protocolos recomendados.