Jovens enfrentam maior risco de suicídio no Brasil, aponta estudo da Fiocruz

© Rodrigo Méxas/Fiocruz

Relatório revela taxas alarmantes entre indígenas e destaca desafios no acesso à saúde mental

Um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) expôs um cenário preocupante sobre a saúde mental da juventude brasileira. Segundo o 2º Informe Epidemiológico sobre a Situação de Saúde da Juventude Brasileira: Saúde Mental, elaborado pela Agenda Jovem Fiocruz e pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), a população jovem apresenta taxas mais altas de suicídio do que a média nacional.

De acordo com o estudo, enquanto a taxa geral de suicídio no país é de 24,7 mortes a cada 100 mil habitantes, entre jovens esse índice sobe para 31,2. Entre homens jovens, o número é ainda maior: 36,8. No entanto, a situação mais crítica está entre os povos indígenas, cuja taxa chega a 62,7. Entre indígenas do sexo masculino, de 20 a 24 anos, o cenário é alarmante: 107,9 suicídios por 100 mil habitantes.

As mulheres indígenas também enfrentam índices elevados, sobretudo entre 15 e 19 anos, faixa em que a taxa chega a 46,2 por 100 mil habitantes. Para a pesquisadora Luciane Ferrareto, fatores culturais, a demora para atendimento e o preconceito persistente contribuem para o agravamento do problema.

Internações e perfil dos atendimentos

O informe analisou dados de internações, óbitos e atendimentos nas unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) entre 2022 e 2024. Os homens jovens representam 61,3% das internações por saúde mental, com taxa de 708,4 por 100 mil habitantes — 57% maior do que a observada entre mulheres.

Entre eles, o abuso de substâncias psicoativas responde por 38,4% das internações, sendo a maioria por uso combinado de múltiplas drogas (68,7%). Cocaína (13,2%) e álcool (11,5%) também têm peso significativo. Entre mulheres, a depressão aparece como principal causa de hospitalização.

Fatores como pressão social, dificuldades econômicas, instabilidade financeira e idealização de masculinidade influenciam o uso de drogas entre homens, observa Ferrareto. Já no caso das mulheres, episódios de violência física e sexual na adolescência, abandono escolar e sobrecarga com cuidados domésticos e familiares são apontados como fatores de risco.

Apesar da gravidade dos dados, apenas 11,3% dos atendimentos a jovens nas unidades de saúde são voltados à saúde mental — proporção muito inferior à da população geral (24,3%). A taxa de internação entre jovens chega a 579,5 por 100 mil habitantes, e é ainda maior nas faixas de 20 a 24 anos (624,8) e 25 a 29 anos (719,7), superando a de adultos acima de 30 anos.

Vulnerabilidade e falta de acesso

Para o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, a juventude é o grupo que mais sofre com problemas de saúde mental, violências e acidentes de trabalho, mas também o que menos acessa cuidados.

“Muitas vezes os jovens, a sociedade e o Estado agem como se eles tivessem que aguentar qualquer coisa exatamente por serem jovens”, afirma.

O estudo utilizou dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Censo 2022 para compor o panorama nacional das internações e mortalidade.

Onde buscar ajuda

Pessoas que enfrentam pensamentos suicidas devem procurar apoio imediato. Conversar com alguém de confiança e buscar atendimento profissional é fundamental.

Serviços disponíveis:

  • Centros de Atenção Psicossocial (Caps)

  • Unidades Básicas de Saúde

  • UPA 24h, SAMU 192, pronto-socorros e hospitais

  • Centro de Valorização da Vida (CVV) – atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188, além de chat, e-mail e VoIP, 24 horas por dia

Procurar ajuda é um passo essencial — e nunca deve ser adiado.