Drenar DF transforma rotina na Asa Norte e põe fim a alagamentos históricos

A bacia de detenção do Drenar DF retém resíduos sólidos, como plásticos e até cadáveres de animais, evitando que sigam para o Lago Paranoá | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

 

Sistema de drenagem, inaugurado em março, já duplicou a capacidade de escoamento da região, trazendo alívio para moradores e comerciantes após décadas de prejuízos com enchentes.


“Hoje o tempo fecha e ninguém corre para tirar o veículo da garagem. A preocupação acabou.” O relato de Gertrud Mathias, moradora da SQN 202 há quarenta anos, resume o impacto da primeira etapa do Drenar DF, em operação desde março. O maior sistema de captação e escoamento de águas pluviais já implementado no Distrito Federal dobrou a capacidade de drenagem das primeiras quadras da Asa Norte, garantindo tranquilidade à população durante o período chuvoso.

Com investimento de R$ 180 milhões do Governo do Distrito Federal (GDF), a obra inclui 7,7 km de tubulação, 291 bocas de lobo, mais de 100 poços de visita e uma ampla bacia de detenção. Desde o início da operação, não houve registro de transtornos causados pelas chuvas, resultado que contrasta com o passado recente da região. “Antes, a água subia dois metros e meio dentro da garagem. Perdemos móveis, documentos, e mais de dez carros foram destruídos. Hoje estamos mais tranquilos, não tivemos nenhum problema até agora”, conta Gertrud.

O diretor-técnico da Terracap, Hamilton Lourenço Filho, afirma que o sistema tem funcionado conforme o previsto, com monitoramento contínuo durante e após tempestades. Segundo ele, a rede foi projetada para suportar grandes volumes, transportando a água das chuvas desde o Eixo Monumental até as quadras finais 4 e 5 da Asa Norte. As galerias percorrem a região desde a Arena BRB, passando por sucessivas quadras residenciais e comerciais, cruzando vias como a W3 Norte e o Eixão até chegar à L4 Norte.

A bacia de detenção, instalada no Parque Urbano Internacional da Paz, retém resíduos sólidos – de plásticos a animais mortos –, impedindo que cheguem ao Lago Paranoá. Ocupando 37 mil m² e com capacidade de armazenamento de até 96 mil m³ de água, ela cumpre um papel essencial para o ecossistema local. “A sujeira é para estar na bacia, não no Lago Paranoá”, reforça Filho, que pede colaboração da população no descarte correto de resíduos.

Comerciantes também relatam os benefícios. Na comercial da 201/202, o barbeiro Juan Negreiros lembra que as chuvas afastavam clientes, que não conseguiam atravessar áreas alagadas. Hoje, a realidade é outra. “O cliente chega, estaciona e é atendido. Foi uma obra acertada, melhorou para o comércio e para quem mora perto”, diz. Seu colega, Leandro Oliveira, lembra das barricadas improvisadas com madeira para impedir que a água invadisse as lojas. “Depois do Drenar, tivemos chuva forte e não alagou. Para mim ficou 100%.”

Além de aprimorar a manutenção da bacia, técnicos da Terracap e da Novacap já trabalham na preparação das próximas etapas do programa. A segunda fase deve alcançar quadras entre a 4 e a 14, e a terceira, até a altura da 16. O governador Ibaneis Rocha destaca o caráter de longo prazo do projeto. “É uma obra que eu não vou entregar no meu mandato, mas que precisa ser feita para resolver todo o problema da Asa Norte. Temos que pensar na cidade daqui 20 ou 30 anos”, afirmou.

Idealizado em 2008 e executado apenas a partir de 2019, o Drenar DF consolida-se como uma das maiores intervenções estruturais do governo. “Estou muito feliz. Essa é a segunda maior obra do meu governo, coisa que ninguém acreditava”, disse Ibaneis à época da entrega. Com a redução dos riscos de alagamentos, moradores e comerciantes vivenciam agora uma nova fase de segurança e estabilidade diante das chuvas no Distrito Federal.