Sobretaxas dos eua ainda atingem 22% das exportações brasileiras, diz alckmin

Antonio Cruz/Agência Brasil

Após retirada de 238 produtos do tarifaço, governo avalia avanço, mas setores industriais continuam sendo os mais prejudicados

O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou nesta sexta-feira (21) que 22% das exportações brasileiras aos Estados Unidos continuam sujeitas às sobretaxas impostas pelo governo norte-americano. A declaração foi feita no Palácio do Planalto, um dia após a Casa Branca anunciar a retirada de 238 itens da lista do chamado tarifaço.

Segundo Alckmin, a decisão representa o maior avanço até o momento nas negociações bilaterais. No início da imposição das tarifas, cerca de 36% das vendas brasileiras para o mercado norte-americano enfrentavam alíquotas adicionais. “Gradualmente, tivemos decisões que ampliaram as isenções. Com a retirada dos 238 produtos, reduzimos para 22% a fatia da exportação sujeita ao tarifaço”, destacou.

A medida anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, derruba a tarifa extra de 40% aplicada a uma lista ampla de itens agrícolas, como café, carne bovina, banana, tomate, açaí, castanha de caju e chá. A isenção tem efeito retroativo a 13 de novembro, permitindo que produtos já exportados tenham direito a reembolso.

Impacto nas exportações brasileiras

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram que, considerando os US$ 40,4 bilhões exportados pelo Brasil para os EUA em 2024:

  • US$ 8,9 bilhões seguem sujeitos à tarifa adicional de 40% (ou 10% mais 40%, dependendo do produto);

  • US$ 6,2 bilhões permanecem com tarifa extra de 10%;

  • US$ 14,3 bilhões estão livres de sobretaxas;

  • US$ 10,9 bilhões seguem afetados pelas tarifas horizontais da Seção 232, voltadas a setores como siderurgia e alumínio.

A secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, ressaltou que a parcela das exportações livres de tarifas adicionais aumentou 42% desde o início do impasse. Ela alertou, porém, que o setor industrial continua sendo o mais prejudicado, dada a dificuldade de redirecionar produtos de maior valor agregado para outros mercados. Aeronaves da Embraer, por exemplo, seguem sujeitas à alíquota de 10%.

Negociações continuam

Alckmin afirmou que a recente flexibilização tarifária foi influenciada pelo diálogo entre Donald Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro realizado na Malásia, em outubro. Em 4 de novembro, o governo brasileiro enviou aos EUA uma proposta de acordo comercial, cujo conteúdo não foi detalhado.

O presidente em exercício disse que o Brasil busca avançar nas tratativas para ampliar a lista de exceções e retirar novos produtos das sobretaxas. Entre os temas em discussão estão questões tarifárias e não tarifárias, como terras raras, big techs, energia renovável e o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata).

Alckmin também confirmou que Lula apresentou a Trump questionamentos sobre a aplicação da Lei Magnitsky, que impôs sanções a autoridades brasileiras. Não há, no entanto, uma reunião prevista entre os presidentes, embora Lula tenha convidado o líder norte-americano a visitar o Brasil.

Indústria segue como ponto sensível

Apesar do avanço registrado com a retirada de centenas de produtos agrícolas do tarifaço, o governo considera que os itens industriais continuam sendo o foco de maior preocupação. Segmentos que dependem de encomendas específicas ou possuem produtos de alto valor agregado enfrentam dificuldades para encontrar mercados alternativos.

“Continuamos otimistas. O trabalho não terminou, mas avança com menos barreiras”, declarou Alckmin.