Crise de confiança pressiona relação entre Planalto e Hugo Motta às vésperas de votações decisivas

 

 

Apesar das tensões, governo tenta preservar parceria com o presidente da Câmara para garantir avanço de projetos que reforçam a arrecadação de 2026 e evitar derrota no PL Antifacção.

 

 


Mesmo diante de abalos recentes na relação, o Palácio do Planalto avalia que será necessário manter a interlocução com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pelo menos até o próximo ano. A estratégia é pragmática: o governo depende diretamente do Congresso para aprovar projetos que aumentam a arrecadação de 2026, fundamentais para o equilíbrio fiscal.

A divergência mais recente surgiu após Motta escolher o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do PL Antifacção, proposta originalmente elaborada pelo Executivo. Ao entregar a relatoria a um parlamentar da oposição, aliado do governador Tarcísio de Freitas — possível candidato competitivo à Presidência em 2026 —, Motta retirou do Planalto o protagonismo sobre uma das principais pautas de segurança pública.

O governo tenta impedir que o projeto seja votado nesta terça-feira, 18, e mobiliza ministros, como Ricardo Lewandowski e Gleisi Hoffmann, para convencer Motta a adiar a apreciação. O Planalto se opõe a mudanças que reduzam verbas da Polícia Federal e também critica o trecho que equipara facções criminosas a organizações terroristas.

Paralelamente, três propostas que impactam a arrecadação também dependem do aval de Motta para avançar. Entre elas estão o PL 5.473/2025, que aumenta a tributação sobre bets, bancos e fintechs; o PLP 182/25, que prevê corte linear de benefícios fiscais; e o PLP 125/22, dos “devedores contumazes”, considerado estratégico tanto para o combate ao crime organizado quanto para reforçar o caixa do governo.

Apesar das tensões, a relação não tende ao rompimento. Motta, que por vezes se alinha à oposição, também tem interesse em manter pontes com o governo. Ele busca apoio de Lula para a candidatura ao Senado de seu pai, Nabor Wanderley, na Paraíba, e tenta fortalecer sua própria reeleição à Câmara — e, eventualmente, à presidência da Casa em 2027.

Nos bastidores, o Planalto vinha concedendo espaço para que Motta indicasse nomes ao segundo e terceiro escalões. Contudo, a escolha de Derrite para relatar o PL Antifacção provocou surpresa e esfriou o avanço dessas negociações. Ainda assim, ambos os lados sabem que precisam um do outro para atravessar um período decisivo na pauta política e fiscal do país.