COP30 entra em semana decisiva com impasses sobre metas climáticas, financiamento e adaptação

Fotos: Raimundo Pacco/COP30

 

Ministros assumem negociações finais enquanto falta consenso para acordos centrais da conferência em Belém

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, inicia sua semana decisiva com a participação direta de ministros de diversos países. O objetivo é tentar fechar, por consenso, os principais acordos que irão orientar a ação climática global nos próximos anos — um processo que, segundo especialistas, ainda enfrenta entraves significativos.

Na noite de domingo (16), a presidência da COP divulgou o resumo das consultas sobre quatro itens cruciais da agenda, entre eles o aumento da ambição climática nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e o financiamento climático de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento. Nenhum desses temas alcançou aclamação suficiente para avançar à agenda formal de ação.

Outro ponto considerado central — a Meta Global de Adaptação (GGA) — também permanece sem consenso. Apesar de um rascunho com cerca de 100 indicadores ter sido concluído por técnicos, a proposta enfrenta resistência do Grupo Africano, apoiado pelos países árabes, que defendem estender o processo técnico por mais dois anos e deixar a decisão final para 2027.

Especialistas ouvidos pela Agência Brasil afirmam que o panorama descrito no documento reflete com precisão o estado das negociações. Para Liuca Yonaha, vice-presidente do Instituto Talanoa, o texto apresenta caminhos possíveis para uma “decisão coletiva”, mas ainda carece de elementos concretos.

O ponto de maior preocupação, segundo analistas, é a ausência de referências objetivas aos “mapas do caminho” para zerar o desmatamento e realizar a transição para longe dos combustíveis fósseis — agenda defendida publicamente pelo Brasil. Para Fernanda Bortolotto, da The Nature Conservancy Brasil, há apoio de mais de 60 países ao tema, mas falta colocá-lo diretamente nas salas de negociação. “Eventos paralelos não bastam. Sem entrar no texto final, o compromisso não se materializa”, afirma.

Com o início do segmento de alto nível nesta segunda-feira (17), a expectativa é que a presença de ministros e chefes de delegações dê a tração política necessária. Tradicionalmente, a segunda semana é marcada por negociações mais intensas e decisões estratégicas.

Na plenária desta manhã, o vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou que o Brasil espera deixar como legado da COP30 a implementação dos mapas de ação para transição energética e o fim do desmatamento ilegal — prioridades reiteradas pelo governo ao longo de todo o processo.

Além das metas de mitigação, o debate sobre adaptação segue como um dos mais sensíveis da conferência. Além da GGA, estão em discussão os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e o Fundo de Adaptação, ambos com rascunhos processuais prontos para análise ministerial.

Outro tema em aberto é a transição justa, que busca estabelecer um programa de trabalho permanente dentro da convenção do clima. O texto, porém, ainda divide as partes e permanece sem consenso.

Com diversos impasses e pouco tempo restante, a COP30 avança para sua fase mais crítica. O desafio dos negociadores será transformar intenções em acordos concretos capazes de orientar a ação climática global — e evitar que a conferência termine sem avanços sobre os pontos mais urgentes da agenda ambiental.