
Ministro Guilherme Boulos promete diálogo prévio sobre hidrovia e reforça compromisso com novas demarcações; Cúpula dos Povos encerra debates com críticas a “falsas soluções” climáticas
O governo federal anunciou neste domingo (16) que realizará uma consulta livre, prévia e informada aos povos do Rio Tapajós antes de qualquer avanço no projeto de hidrovia previsto para a região. A decisão vem após o protesto dos indígenas Munduruku que, na sexta-feira, bloquearam a entrada da Zona Azul, área de negociações da COP30, para cobrar diálogo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contestar medidas que afetam seus territórios.
O anúncio foi feito pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, durante o encerramento da Cúpula dos Povos. Segundo ele, o governo criará uma mesa de diálogo em Brasília para receber os povos da região. “Temos o compromisso de realizar uma consulta livre, prévia e informada antes de implementar qualquer projeto no Tapajós”, afirmou. Boulos disse ter conversado por telefone com Lula e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, antes de participar do evento.
Além da consulta, Boulos destacou que o governo seguirá com o processo de demarcação de terras indígenas. “Haverá mais demarcações, e até o ano que vem novas áreas serão reconhecidas”, garantiu.
Protesto e reivindicações
O ato dos Munduruku, realizado de forma pacífica e com apoio de ativistas internacionais e de povos de outros países, exigia uma reunião com o presidente Lula e a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que trata da privatização de empreendimentos hidroviários nos rios Madeira, Tocantins e Tapajós. Os indígenas também criticam a construção da Ferrogrão, ferrovia que ligará o Mato Grosso ao Pará e que, segundo eles, pressiona seus territórios e ameaça seu modo de vida.
Após o protesto, representantes indígenas foram recebidos pelo presidente da COP30, André Corrêa do Lago, acompanhado das ministras Marina Silva e Sônia Guajajara.
Participação popular e críticas dentro da COP30
Durante o discurso, Boulos afirmou que as manifestações são reflexo da maior participação social nesta edição da conferência. “Se tem manifestação na COP, é sinal de que o povo está participando. E é isso que a gente quer”, declarou. Ele destacou o protagonismo da Cúpula dos Povos como espaço legítimo de expressão de indígenas, quilombolas e comunidades amazônicas.
Carta final denuncia “falsas soluções” e cobra transição justa
Também neste domingo, foi divulgada a carta final da Cúpula dos Povos. O documento denuncia o avanço do que os participantes chamam de “falsas soluções” para o enfrentamento da crise climática e defende um internacionalismo popular baseado no intercâmbio de saberes e solidariedade entre povos.
A carta aponta o modo de produção capitalista como responsável pela aceleração da crise ambiental e destaca que comunidades periféricas são as mais atingidas por desastres climáticos e pelo racismo ambiental. Empresas transnacionais dos setores de mineração, energia, armas, agronegócio e tecnologia são citadas como protagonistas da “catástrofe climática”.
Entre as prioridades listadas no documento estão: demarcação de terras indígenas, reforma agrária, incentivo à agroecologia, abandono de combustíveis fósseis, financiamento público para uma transição justa com taxação das grandes corporações e dos mais ricos, além do fim das guerras e mais participação dos povos nos processos de decisão.
Encerramento da Cúpula reúne milhares em Belém
A Cúpula dos Povos reuniu cerca de 70 mil participantes ao longo de cinco dias, incluindo povos originários, comunidades tradicionais, movimentos sociais, sindicatos, juventudes e grupos urbanos e ribeirinhos de vários países. Considerado o maior espaço de participação social paralelo à COP, o evento teve início na quarta-feira (12) com críticas à falta de envolvimento popular nas negociações oficiais.
O encontro terminou com um “banquetaço” na Praça da República, no centro de Belém, onde cozinhas comunitárias distribuíram refeições ao público em meio a apresentações culturais. Para as mais de 1,3 mil organizações presentes, as nações ricas e os grandes decisores globais têm falhado em apresentar soluções eficazes para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme o Acordo de Paris.
O clima de mobilização encerra a Cúpula dos Povos com um recado claro: sem a participação direta dos povos da floresta, das periferias e de movimentos sociais, não há caminho possível para enfrentar a crise climática.









