
Relatório do Climate Policy Initiative (PUC-Rio) aponta que energia e agropecuária lideram o avanço, mas alerta para queda drástica em investimentos florestais, que representam apenas 1% do total
Os investimentos em ações climáticas no Brasil mais que dobraram nos últimos quatro anos, alcançando US$ 67,8 bilhões em 2023, segundo relatório divulgado nesta semana pelo centro de estudos Climate Policy Initiative (CPI), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O levantamento indica um crescimento expressivo nos setores de energia e agropecuária, mas também chama atenção para o baixo volume destinado às florestas.
“No Brasil, a mobilização de financiamento climático é crucial para atingir objetivos climáticos e de desenvolvimento do país, promover maior adaptação às mudanças climáticas e reduzir vulnerabilidades socioeconômicas”, afirmou Joana Chiavari, diretora de pesquisa do CPI/PUC-Rio.
O avanço foi impulsionado principalmente pelos setores de energia e Agropecuária, Florestas e Outros Usos da Terra (AFOLU). No setor energético, a expansão da energia solar fez os investimentos saltarem de US$ 9,5 bilhões (2020–2021) para US$ 22,4 bilhões (2022–2023). Já no AFOLU, o volume quase dobrou, de US$ 14,9 bilhões para US$ 28 bilhões no mesmo período, com destaque para práticas sustentáveis como agrossilvicultura e pecuária de baixo impacto.
Apesar do avanço geral, o relatório alerta para o declínio acentuado dos investimentos em florestas, que receberam apenas 1% do total em 2023. O valor aplicado no setor caiu de US$ 1,5 bilhão em 2019 para apenas US$ 254 milhões no ano passado.
“O baixo investimento no setor de florestas revela como o papel delas na agenda do clima ainda é uma oportunidade subaproveitada. Para avançar no combate às mudanças climáticas, as florestas precisam ser compreendidas como ativos centrais”, destacou Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio.
De acordo com o estudo, 90% dos recursos vieram de fontes domésticas entre 2019 e 2023. As fontes privadas responderam por mais de dois terços dos investimentos nos últimos dois anos, lideradas por instituições financeiras, empresas e famílias. Já no financiamento público, o governo federal e o BNDES tiveram participação expressiva, com médias de US$ 6,6 bilhões e US$ 7,2 bilhões, respectivamente.
A maior parte dos investimentos (79%) foi destinada à mitigação das mudanças climáticas, enquanto adaptação representou 7% e ações de objetivo duplo somaram 11%. Embora ainda minoritários, os recursos voltados a perdas e danos cresceram significativamente, passando de US$ 0,2 bilhão em 2019 para US$ 2,2 bilhões em 2023 — e atingindo US$ 8,1 bilhões em 2024, após a tragédia climática no Rio Grande do Sul.
Para o CPI, o mapeamento cria uma base de referência para avaliar o alinhamento dos investimentos brasileiros à agenda climática global, especialmente diante do compromisso firmado na COP29, que prevê a mobilização de US$ 300 bilhões até 2035. O número ainda é modesto frente à estimativa global de que o mundo precisará de US$ 1,3 trilhão para enfrentar a crise climática nos próximos anos.









