Mata Atlântica perde 2,4 milhões de hectares

© Fernando Frazão/Agência Brasil

Bioma mais degradado do país mantém apenas 31% de sua vegetação natural; agricultura e expansão urbana seguem como principais pressões

 

 

 

A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta, perdeu 2,4 milhões de hectares de floresta nas últimas quatro décadas — o equivalente a 8,1% da área florestal registrada no início da série histórica, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira (28) pelo MapBiomas.

Com o avanço da degradação, o bioma mantém apenas 31% de sua vegetação natural, confirmando sua posição como o mais desmatado do Brasil. Metade das áreas desmatadas em 2024 ainda correspondem a florestas maduras, com mais de 40 anos, responsáveis por grande parte da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.

“A vegetação natural da Mata Atlântica foi suprimida para abrir espaço para atividades humanas desde o início da colonização. Em 1985, o bioma tinha apenas 27% de sua área florestal original”, explica Natália Crusco, integrante da equipe do MapBiomas.
“Desde então, o ritmo de desmatamento variou, e após a promulgação da Lei da Mata Atlântica, notamos até um leve aumento da área florestada”, acrescenta.

Desmatamento e uso do solo

Entre 1985 e 2024, o desmatamento médio anual na Mata Atlântica chegou a 190 mil hectares nos últimos cinco anos. Apesar da desaceleração em relação às décadas anteriores, as florestas antigas seguem sendo as mais afetadas.

A agricultura continua como o principal vetor de mudança na paisagem. A área de cultivo quase dobrou desde 1985 e hoje representa 33% da produção agrícola nacional dentro do bioma. As lavouras que mais cresceram foram soja (343%), cana-de-açúcar (256%) e café (105%), enquanto as pastagens recuaram 8,5 milhões de hectares no mesmo período.

A silvicultura, voltada ao cultivo comercial de árvores, também teve forte expansão: quintuplicou em 40 anos e já representa mais da metade da atividade florestal do país.

Urbanização em expansão

O levantamento mostra ainda que o crescimento urbano na Mata Atlântica duplicou desde 1985. Atualmente, três em cada quatro municípios (77%) ampliaram suas áreas urbanizadas nas últimas décadas.

Mais de 80% dos municípios do bioma possuem áreas urbanas pequenas — com menos de mil hectares —, mas as capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba se destacam, cada uma com mais de 30 mil hectares urbanizados.

Conservação e desafios

Os dados reforçam a necessidade de políticas públicas eficazes de conservação e recuperação florestal, especialmente em áreas de floresta madura, fundamentais para o equilíbrio climático, a proteção de mananciais e a manutenção da biodiversidade.

“A Mata Atlântica é o bioma mais transformado do país e, ainda assim, abriga 70% da população brasileira. Proteger o que resta e restaurar o que foi perdido é essencial para garantir qualidade de vida e sustentabilidade”, conclui Crusco.