
Em entrevista à Agência Brasil, o ex-titular da Saúde e pesquisador da Fiocruz destaca que o enfrentamento ao câncer deve incluir políticas de promoção da saúde, redução das desigualdades regionais e fortalecimento do SUS
O ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão afirmou que o combate ao câncer, no Brasil e no mundo, precisa ir muito além do diagnóstico e do tratamento. Para o pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ex-diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e integrante do Comitê Consultivo para o Controle do Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), o “eixo central” de enfrentamento à doença deve ser a prevenção e a promoção da saúde.
Em entrevista à Agência Brasil, Temporão ressaltou que o câncer é um desafio também de natureza social e econômica, e defendeu uma reestruturação do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, é essencial que municípios se organizem em regiões de saúde para garantir melhor atendimento a casos complexos e reduzir as desigualdades regionais.
“O câncer é um conjunto de doenças, não apenas uma. Já é a principal causa de mortalidade em mais de 600 municípios brasileiros”, explicou o ex-ministro. Ele lembrou ainda que, segundo a OMS, a tendência é que o câncer ultrapasse as doenças cardiovasculares como principal causa de morte no mundo nas próximas décadas.
Dados do Inca estimam cerca de 700 mil novos casos por ano no Brasil até 2025. Globalmente, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) projeta 35 milhões de novos diagnósticos até 2050.
Temporão destacou que a maior parte das mortes por câncer ocorre em países de baixa e média renda, evidenciando a iniquidade no acesso à prevenção e ao tratamento. “Esses países não conseguem enfrentar o problema nem na promoção da saúde, nem no acesso a terapias tradicionais, como quimio, rádio e cirurgia”, afirmou.
Para ele, a resposta ao câncer deve ser multifacetada, envolvendo dimensões médicas, sociais, econômicas e éticas. “Precisamos de políticas que garantam prevenção, detecção precoce, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. O desafio é enorme, mas essencial para o futuro da saúde pública”, concluiu.










