
Projeto do IgesDF já mostra resultados expressivos em resolutividade, economia e acolhimento humanizado nas unidades de Vicente Pires, Sobradinho e Núcleo Bandeirante
“Eu gostei muito do atendimento daqui. Achei que minha filha ia passar dias internada, mas em pouco tempo ela foi avaliada, medicada e encaminhada para um hospital especializado. Foi um alívio enorme para toda a família.”
O relato é de Lídia (nome fictício), mãe de uma jovem de 22 anos que chegou à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Vicente Pires em crise de esquizofrenia. A experiência dela resume o impacto do novo modelo de retaguarda psiquiátrica implantado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF).
De acordo com o psiquiatra Sérgio Cabral, responsável técnico pelo projeto, a iniciativa começou como piloto entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, na UPA do Núcleo Bandeirante. “O resultado foi tão expressivo que já ampliamos para as unidades de Sobradinho e Vicente Pires. Hoje, o psiquiatra não atende diretamente na porta, mas dá suporte especializado ao clínico da UPA, garantindo avaliação e conduta rápidas”, explica.
O fluxo de atendimento é ágil: o paciente em crise é acolhido pela equipe de enfermagem e avaliado pelo médico clínico. Quando há risco grave — como tentativa de suicídio ou agitação intensa —, o psiquiatra de retaguarda é acionado para definir o melhor desfecho, seja alta com encaminhamento ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps), observação ou internação especializada.
Para acolher melhor esses pacientes, as UPAs adaptaram salas com ambiente protegido, eliminando riscos e garantindo segurança, sem isolar o paciente da rotina da unidade. “É um cuidado que dá segurança a todos, sem excluir o paciente do convívio”, destaca Cabral.
Os resultados são expressivos. Antes do projeto, a média de permanência de pacientes em crise psiquiátrica na UPA do Núcleo Bandeirante era superior a cinco dias. Em 2025, caiu para 1,8 dia, o que representa economia de milhões de reais para o sistema. Em toda a rede de UPAs do DF, o tempo médio de internação reduziu de quatro dias para 1,05 dia, com resolutividade de quase 90%.
A procura também aumentou: os atendimentos em saúde mental triplicaram entre 2023 e 2024, passando de 10 mil para 30 mil. Até agosto de 2025, já foram registrados mais de 16 mil atendimentos. Para Cabral, o crescimento reflete tanto o aumento dos transtornos mentais quanto a redução do estigma. “As pessoas sabem que há acolhimento qualificado e procuram mais o serviço. É sinal de que estamos ampliando o acesso”, avalia.
Segundo o diretor de Atenção à Saúde do IgesDF, Rodolfo Borges Lira, o objetivo não é substituir o acompanhamento contínuo nos Caps, mas garantir resposta rápida nas crises. “Damos visibilidade ao caso e articulamos a continuidade do cuidado com a atenção básica e a rede de saúde mental. O maior ganho é humano: o paciente se sente acolhido e a família amparada”, afirma.
Com resultados positivos em resolutividade, economia e satisfação dos usuários, o IgesDF pretende expandir o modelo para todas as regiões do Distrito Federal. “É uma estratégia que aproxima o especialista da população e reforça os princípios do SUS: cuidado descentralizado, resolutivo e humano”, conclui Lira.










