
Número de povos e idiomas tradicionais cresce após mudanças metodológicas; população indígena aumenta quase 89% em 12 anos, segundo o IBGE
O Brasil abriga 391 etnias indígenas e 295 línguas faladas em seu território, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo Demográfico 2022 – Etnias e Línguas Indígenas. O levantamento mostra um avanço significativo em relação ao último censo, realizado em 2010, quando foram registradas 305 etnias e 274 línguas.
Segundo o IBGE, 1.694.836 pessoas indígenas vivem em 4.833 municípios brasileiros, representando 0,83% da população total do país. O número praticamente dobrou em 12 anos, com um aumento de 88,82% no total de indígenas identificados.
As etnias mais populosas são a Tikuna, com 74.061 pessoas; Kokama, com 64.327; e Makuxí, com 53.446. Já entre as línguas mais faladas, lideram Tikúna (51.978 falantes), Guarani Kaiowá (38.658) e Guajajara (29.212).
De acordo com o instituto, as etnias foram definidas por afinidades linguísticas, culturais e sociais, enquanto as línguas consideradas são aquelas utilizadas para comunicação nos domicílios.
A gerente de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes, destaca que os novos dados permitirão um planejamento mais preciso de políticas públicas.
“Agora será possível compreender onde cada povo se situa, se está em terra indígena, em área urbana ou rural, permitindo que as políticas públicas sejam adaptadas à realidade de cada comunidade”, explicou.
Maioria vive em áreas urbanas
O levantamento mostra uma mudança no perfil de residência da população indígena. Em 2010, 63,78% viviam em áreas rurais; já em 2022, 53,97% passaram a residir em áreas urbanas.
A cidade de São Paulo é a que abriga o maior número de etnias do país, com 194 povos identificados, seguida por Manaus (186), Rio de Janeiro (176), Brasília (167) e Salvador (142).
Dentro das terras indígenas (TIs), foram registradas 335 etnias — número superior ao de 2010, quando eram 250. Fora das TIs, o número chegou a 373. O Amazonas lidera em diversidade dentro das terras indígenas, com 95 etnias, seguido por Pará (88) e Mato Grosso (79).
Mais falantes e mais línguas resgatadas
O Censo também revela que 474.856 pessoas — cerca de 29,2% da população indígena com dois anos ou mais — falam alguma língua indígena no domicílio. Desse total, 78,3% vivem em terras indígenas.
Segundo o gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, Fernando Damasco, o aumento no número de línguas registradas reflete tanto melhorias na metodologia de coleta quanto iniciativas de revitalização cultural promovidas pelos próprios povos.
“Há línguas que retornaram graças ao resgate feito pelas comunidades, e outras que surgiram com processos migratórios, como o caso do idioma Warao, trazido pela migração venezuelana”, explicou.
Cidades com maior diversidade linguística
Manaus é o município com maior número de línguas indígenas declaradas (99), seguido por São Paulo (78) e Brasília (61). Fora das capitais, São Gabriel da Cachoeira (AM) se destaca com 68 línguas, à frente de Altamira (PA), com 33, e Iranduba (AM), com 31.
O IBGE ressalta que o aumento expressivo no número de povos e línguas registrados reflete o aperfeiçoamento da pesquisa e o reconhecimento da diversidade étnica e cultural dos povos indígenas brasileiros.










