
Apesar de avanços em boas práticas de parto, país mantém índices alarmantes de cesarianas e negligência em exames básicos.
Os dados da Pesquisa Nascer no Brasil 2, divulgados pela Fiocruz, expõem um cenário de contrastes na saúde materna. De um lado, avanços como a redução da episiotomia e da manobra de Kristeller. De outro, a persistência de índices elevados de cesarianas e graves lacunas no acompanhamento pré-natal.
No SUS, os partos normais representam 52%, mas a proporção de cesáreas subiu de 43% para 48% desde 2014. No sistema privado, o número é ainda mais alarmante: 81% no país e 86% no Rio de Janeiro, muito acima da recomendação da OMS de até 15%. A maioria dessas cirurgias não decorre de necessidade médica, mas de escolhas institucionais e culturais.
No pré-natal, a situação é crítica. Mesmo com quase universalização do atendimento, apenas um terço das gestantes recebeu exames essenciais de glicemia e pressão arterial. Menos de 34% tiveram prescrição de ácido fólico, e pouco mais de 31% foram imunizadas contra tétano e hepatite B. Gestantes de alto risco foram especialmente negligenciadas: 75% nunca tiveram consulta com especialistas.
Para a coordenadora do estudo, Maria do Carmo Leal, esses dados revelam um problema estrutural: “São mulheres que peregrinaram até o parto, justamente quando mais precisavam de atendimento especializado. Isso é o oposto do que a saúde pública deveria oferecer”.
Os números confirmam: apesar dos avanços na humanização do parto, o Brasil ainda falha em proteger mães e bebês desde a gestação, mantendo um sistema marcado por desigualdade e negligência.