Leitura como política pública: bibliotecas comunitárias ganham força na formação de jovens leitores

Foto: Matheus H. Souza/ Agência Brasília

 

Atelier das Palavras, premiado como Ponto de Cultura em 2024, renova acervo e reforça papel das bibliotecas comunitárias no incentivo à leitura no Brasil

“As pessoas falam que criança e adolescente não leem, mas eu discordo. É só ter novidade que eles correm para pegar livros emprestados.’’ A afirmação é de Kely Louzada, idealizadora da biblioteca comunitária Atelier das Palavras, no morro da Mangueira, no Rio de Janeiro. Criada para aproximar jovens do universo literário, a iniciativa foi uma das 300 vencedoras do prêmio Pontos de Cultura 2024, do Ministério da Cultura (MinC), recebendo R$ 30 mil para renovar o acervo e fortalecer suas atividades.

O impacto da biblioteca já se reflete em histórias como a de Jorge Henrique de Souza. Frequentador do espaço desde criança, ele hoje é estudante universitário e trabalha no Atelier. “Acredito que cresci bastante intelectualmente por conta da leitura”, conta.

Localizado na entrada da comunidade, o espaço se mantém ativo graças a doações de livros, parcerias com as secretarias de Cultura e editais públicos. Em 2024, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) passou a contemplar bibliotecas públicas e comunitárias, garantindo a distribuição gratuita e regular de acervos literários. Segundo o secretário de Formação Cultural, Livro e Leitura do MinC, Fabiano dos Santos Piúba, “desde 2024, as bibliotecas comunitárias passaram a receber livros literários para atualizar e ampliar seus acervos”.

Atualmente, o Brasil tem 6.021 bibliotecas públicas e comunitárias aptas a receber os títulos do PNLD, todas cadastradas no Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP).

Apesar das dificuldades, pesquisas mostram que o interesse pela leitura está presente. A edição 2024 do Retratos da Leitura no Brasil revelou que 85% dos entrevistados gostariam de ler mais livros. Já o Panorama do Consumo de Livros, da Câmara Brasileira do Livro (CBL), apontou que 84% da população reconhece a leitura como importante ou muito importante para a carreira, o lazer e a aprendizagem.

Para Sevani Matos, presidente da CBL, os números confirmam que a leitura desperta interesse, mas ainda enfrenta barreiras de acesso e desigualdade. “As bibliotecas e livrarias têm papel estratégico, criando espaços de encontro com o livro e formando leitores em diversas regiões do país. É essencial fortalecer políticas públicas que incentivem a leitura”, afirma.