
Entidade defende programa como política pública legítima e destaca permanência voluntária de profissionais no país
A Associação dos Médicos Cubanos no Brasil (Aspromed) divulgou uma nota de repúdio às sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos contra gestores públicos brasileiros ligados à estruturação do programa Mais Médicos, além de reafirmar seu apoio à cooperação histórica entre Brasil e Cuba na área da saúde.
Nesta semana, o Departamento de Estado norte-americano revogou os vistos de quatro autoridades brasileiras, sob a alegação de que teriam colaborado com um suposto “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”. Foram sancionados Mozart Julio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde; Alberto Kleiman, ex-assessor da pasta e atual coordenador-geral para a COP30; além do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e seus familiares.
A medida foi anunciada por Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, e provocou forte reação entre entidades ligadas à saúde pública e à cooperação internacional.
Defesa do Mais Médicos
Na nota divulgada, a Aspromed classificou as sanções como injustas e reafirmou o caráter humanitário e social do Mais Médicos, criado em 2013 para ampliar o acesso da população brasileira aos serviços básicos de saúde, especialmente em regiões vulneráveis e de difícil acesso.
“O Mais Médicos é uma política pública voltada à garantia do direito constitucional à saúde, especialmente para a população de baixa renda que vive em regiões menos privilegiadas por todo o país”, diz o texto.
A entidade também refutou a acusação de trabalho forçado, afirmando que os profissionais cubanos que permaneceram no Brasil o fizeram por vontade própria, e que muitos estão naturalizados, com famílias brasileiras e vínculos afetivos consolidados.
“Muitos já naturalizados, com famílias brasileiras e laços afetivos profundos com o país, continuarão atuando com dedicação junto às comunidades mais carentes, levando atendimento e cuidado a pessoas que vivem em condições adversas, nos rincões mais distantes do território nacional”, afirmou a associação.
Impacto social e legado do programa
Segundo a Aspromed, os 18 mil médicos cubanos que participaram do Mais Médicos realizaram cerca de 63 milhões de atendimentos durante os anos de atuação no Brasil. A entidade ressaltou que o programa contribuiu significativamente para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), considerado o maior sistema público e universal do mundo.
Encerrado em 2018 após o rompimento do convênio com o governo cubano, o Mais Médicos deixou um legado reconhecido principalmente em pequenos municípios do interior, comunidades indígenas e periferias de grandes centros urbanos, onde a presença de profissionais de saúde era historicamente escassa.
A Aspromed estima que cerca de 2,5 mil médicos cubanos permaneceram no Brasil após o fim do acordo, seguindo atuando na rede pública de saúde.