Governo brasileiro reage a ataques dos EUA contra STF e defende soberania nacional

© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Itamaraty e Secretaria de Relações Institucionais criticam declarações do vice-secretário de Estado, Christopher Landau, e classificam falas como ofensivas e hostis


O Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Relações Institucionais repudiaram, neste sábado (9), as declarações do vice-secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, que acusou um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de “usurpar poder ditatorial” e de ameaçar líderes de outros Poderes.

Em nota, o Itamaraty classificou a postagem como “novo ataque frontal à soberania brasileira e a uma democracia que recentemente derrotou uma tentativa de golpe de Estado”. A pasta ressaltou que esta foi a segunda manifestação hostil do governo norte-americano em três dias e afirmou que continuará respondendo a “falsidades” divulgadas por autoridades estadunidenses.

A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também criticou duramente Landau, chamando a declaração de “arrogante” e uma “gravíssima ofensa” ao Brasil e ao STF. Nas redes sociais, Gleisi afirmou que “quem tentou usurpar o poder no país foi Jair Bolsonaro” e acusou aliados do ex-presidente de estimularem Donald Trump a pressionar o Judiciário brasileiro.

Landau, sem citar nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, disse que um magistrado teria acumulado autoridade excessiva e “destruído a relação histórica” entre Brasil e Estados Unidos, defendendo que é possível negociar com líderes do Executivo e do Legislativo, mas “não com um juiz”. A publicação, originalmente em inglês, foi traduzida e repostada pela Embaixada dos EUA em Brasília.

O episódio se soma a outras tensões diplomáticas. Na sexta-feira (8), o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da Embaixada norte-americana, Gabriel Escobar, para expressar indignação com ameaças ao Judiciário. No dia anterior, a própria embaixada havia publicado declaração acusando Moraes de “censura” e “perseguição” contra Bolsonaro e advertindo seus aliados.

Os Estados Unidos mantêm sanções contra Moraes com base na Lei Magnitsky e justificam tarifas adicionais sobre produtos brasileiros pela atuação do STF em processos envolvendo o ex-presidente e na remoção de conteúdos e bloqueio de plataformas digitais.

O governo brasileiro reiterou que todos os Poderes estão unidos para defender a Constituição e que não aceitará pressões externas. “Se querem mesmo restaurar uma amizade histórica, comecem por respeitar a soberania do Brasil, de nossas leis e Justiça”, declarou Gleisi.