
Exigências da Rússia e ofensiva militar desafiam ultimato dos EUA; Kremlin mantém ofensiva para controlar quatro regiões ucranianas antes de negociar
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta terça-feira (5) que a redução nos preços da energia pode ser um fator decisivo para levar o presidente russo, Vladimir Putin, a interromper a guerra na Ucrânia. Em entrevista à emissora CNBC, Trump afirmou: “Se a energia cair o suficiente, Putin vai parar de matar pessoas. Se a energia cair mais US$ 10 por barril, ele não terá escolha, porque sua economia está péssima”.
A declaração ocorre em meio a um ultimato imposto pelo governo norte-americano, que ameaça a Rússia com novas sanções e tarifas de até 100% sobre países que continuarem comprando petróleo russo — entre eles, China e Índia. O prazo dado por Trump para um cessar-fogo termina nesta sexta-feira (8), mas fontes do Kremlin indicam que Putin não deve ceder.
Segundo informações obtidas pela agência Reuters, Putin mantém o objetivo de capturar totalmente as regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, antes de qualquer negociação efetiva por paz. “Se Putin conseguisse ocupar totalmente essas quatro regiões que ele reivindicou para a Rússia, ele poderia afirmar que sua guerra na Ucrânia alcançou seus objetivos”, avaliou James Rodgers, autor do livro The Return of Russia, prestes a ser lançado.
Apesar do endurecimento da retórica de Trump e das ameaças econômicas, três fontes ligadas ao Kremlin apontaram que o presidente russo continua cético quanto à eficácia de novas sanções, após mais de três anos de guerra sob restrições ocidentais. Ainda assim, o líder russo não deseja romper totalmente com Washington e vê em Trump uma possível oportunidade para restaurar laços com o Ocidente.
Mesmo com as exigências consideradas inaceitáveis por Kiev — incluindo a retirada ucraniana das regiões ocupadas, status de neutralidade e limites ao tamanho das Forças Armadas —, o Kremlin insiste que as negociações estão em curso. Desde maio, representantes de Moscou e Kiev se encontraram três vezes, embora os encontros tenham se limitado a pautas humanitárias. Putin descreveu as conversas como “positivas”, mas pouco substanciais até o momento.
Em meio à escalada, o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, deve visitar a Rússia ainda esta semana. Segundo a Casa Branca, o objetivo é manter abertos os canais diplomáticos diante da crescente tensão nuclear. “O presidente Trump quer acabar com a matança, e é por isso que está vendendo armas aos membros da Otan e ameaçando Putin com tarifas e sanções severas se ele não aceitar um cessar-fogo”, declarou a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly.
A guerra voltou ao centro das atenções após o mais mortal ataque aéreo russo do ano, que matou 31 pessoas em Kiev, entre elas cinco crianças. A primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko, classificou o bombardeio como uma resposta direta ao ultimato de Trump e pediu ao mundo “pressão máxima” contra Moscou.
Apesar das declarações duras, o Kremlin optou por não responder oficialmente às falas de Trump. Analistas observam que, embora o presidente norte-americano tenha historicamente elogiado Putin, sua postura recente reflete crescente impaciência com a prolongada agressão militar russa e os riscos geopolíticos envolvidos.
O desfecho da crise — entre diplomacia sob pressão econômica e ofensiva militar contínua — permanece incerto. Setembro pode ser decisivo para os rumos da guerra, com consequências globais na segurança energética e na estabilidade internacional.