
Emocionado, presidente defende ação estatal integrada e lembra experiências pessoais de fome: “Não se combate com discurso, e sim com coração”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou nesta terça-feira (5) a saída do Brasil do Mapa da Fome, resultado divulgado recentemente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Em discurso durante a reunião plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), o presidente destacou que o avanço é fruto de políticas públicas sólidas e integradas, e reforçou que o combate à fome deve ser uma política de Estado, não uma medida temporária.
“Não dá para ter política quebra-galho para resolver o problema da fome. A gente está provando que não se resolve isso se não tiver política pública de Estado”, afirmou Lula, ressaltando a necessidade de comprometimento dos governos e da sociedade civil.
De acordo com os dados da FAO, o Brasil voltou a ficar abaixo da linha de 2,5% da população em situação de subalimentação grave no triênio 2022–2024, critério usado para excluir um país do Mapa da Fome. O país havia deixado o mapa em 2014, mas voltou a figurar na lista no período de 2018 a 2020.
Em um discurso marcado pela emoção, Lula compartilhou memórias de sua própria experiência com a fome durante a juventude. Chorando, lembrou episódios em que não podia almoçar no trabalho por falta de dinheiro. “Cada vez que eles [os colegas] colocavam um sanduíche de mortadela na boca, eu imaginava que era eu que estava mordendo aquele sanduíche”, relatou. “Ficava com vergonha de dizer que estava com fome e voltava para trabalhar. E isso aconteceu várias vezes.”
O presidente também criticou a insensibilidade de líderes mundiais frente à realidade da fome e reforçou que a dor da fome não é visível. “Ela vai corroendo você por dentro. E o mais grave é que as pessoas têm vergonha de dizer que estão com fome”, disse.
Durante o evento, a presidenta do Consea, Elisabetta Recine, destacou a importância da retomada das políticas públicas de segurança alimentar e a velocidade com que o Brasil reverteu a situação. “Voltamos a sair do Mapa da Fome em dois anos, e isso mostra que não esquecemos a lição. Sabemos como enfrentar os principais problemas do país com políticas públicas focadas”, afirmou.
Apesar da conquista, Recine alertou que ainda há 7 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar grave. “É nessas pessoas que os nossos programas precisam chegar, de maneira integrada”, completou.
O Consea, órgão que assessora diretamente a Presidência da República na formulação de políticas de segurança alimentar, foi desativado em 2019 e reinstalado por Lula em 2023. A reativação do conselho é considerada fundamental para a articulação de estratégias eficazes no combate à fome e à desnutrição no Brasil.
A saída do Brasil do Mapa da Fome é considerada um marco importante, mas as autoridades reforçam que a luta contra a insegurança alimentar exige vigilância contínua, integração entre programas e ações estruturantes para garantir o direito à alimentação adequada a toda a população.