Lula cobra alternativas para financiar habitação da classe média

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Durante cerimônia de entrega de unidades habitacionais nesta sexta-feira (1º), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou publicamente que sua equipe econômica, o Ministério das Cidades e o Banco Central apresentem alternativas urgentes de financiamento para o setor imobiliário, especialmente para atender a classe média dentro do programa Minha Casa, Minha Vida. A principal preocupação é a queda na disponibilidade de recursos da poupança, tradicional fonte de crédito habitacional no país.

“Me pediram 30 dias. Já passou mais de um mês. O presidente do Banco Central me deve uma resposta”, disse Lula, dirigindo-se a Gabriel Galípolo, atual presidente do BC, e também aos ministros Jader Filho (Cidades) e Rui Costa (Casa Civil), além de dirigentes da Caixa Econômica Federal, responsável pela execução do programa.

Saques da poupança preocupam governo

A fala do presidente ocorre num momento em que a caderneta de poupança, principal fonte de financiamento imobiliário no país, acumula um resgate líquido de R$ 49,6 bilhões em 2025. Apesar de registrar dois meses seguidos de entrada líquida — com R$ 2,1 bilhões em junho —, o desempenho acumulado é negativo, em linha com os anos anteriores: R$ 87,8 bilhões retirados em 2023 e R$ 15,5 bilhões em 2024.

O cenário é reflexo da alta da taxa Selic, que tem incentivado investidores a buscar aplicações mais rentáveis. Como consequência, os bancos enfrentam restrições para liberar crédito imobiliário, afetando principalmente famílias com renda intermediária, público-alvo da nova fase do Minha Casa, Minha Vida.

Compulsórios da poupança podem ser alternativa

Entre as propostas discutidas está a redução dos depósitos compulsórios que os bancos precisam recolher ao Banco Central sobre os valores da poupança. Hoje, esse percentual é de 20%. A proposta defendida pelo ministro Jader Filho é que 80% dos recursos sejam obrigatoriamente destinados à habitação, com limite de juros para evitar desvios de finalidade.

“Ou a gente lança desse jeito ou a gente não deveria lançar. O foco tem que ser a classe média, que está com dificuldade de conseguir financiamento. Esse dinheiro precisa ir para moradia, não para shopping center”, afirmou Jader.

Ele defende um novo diálogo com o Banco Central, incluindo o presidente Lula na reunião com Gabriel Galípolo. A expectativa é que um modelo sustentável de crédito habitacional possa ser definido ainda nas próximas semanas.

Entregas em seis estados do Norte e Nordeste

Na cerimônia no Palácio do Planalto, Lula participou da entrega simbólica de 1.876 unidades habitacionais em seis cidades das regiões Norte e Nordeste: Pojuca e Paulo Afonso (BA), Horizonte (CE), Açailândia (MA), Teresina (PI) e Chapada de Areia (TO).

As unidades entregues no Ceará marcam as primeiras contratadas e concluídas sob os novos parâmetros do programa, com melhorias como varandas, localização mais estratégica e infraestrutura de apoio, incluindo escolas, bibliotecas e unidades de saúde.

“O povo só quer dignidade. Se tiver casa, escola, transporte e creche, a mulher pode trabalhar. A casa dá segurança. É por isso que a Caixa tem que colocar todo o dinheiro possível, e o Jader vai ter que trabalhar mais”, cobrou Lula.

Habitação como motor da economia

Ao reforçar o papel do programa como política habitacional, Lula também destacou seu impacto na economia, especialmente na geração de empregos e estímulo à indústria da construção civil. O presidente reafirmou o compromisso de tornar o Minha Casa, Minha Vida o maior programa habitacional da história do Brasil, agora com foco também na classe média, para famílias com renda de até R$ 12 mil mensais.

Com a retomada do investimento público e busca por alternativas de financiamento, o governo espera manter o ritmo de contratações e ampliar o acesso à moradia digna, mesmo diante do desafio imposto pelo cenário econômico e pelas restrições da poupança.