Pesquisa inédita encontra microplásticos em cordões umbilicais de bebês

Foto de Kelly Sikkema na Unsplash

Estudo é o primeiro do tipo na América Latina e revela presença de partículas plásticas em todas as gestantes analisadas; pesquisadores alertam para riscos ao desenvolvimento fetal


Um estudo inédito conduzido em Maceió (AL) revelou a presença de microplásticos em placentas e cordões umbilicais de bebês nascidos na capital alagoana. A pesquisa, publicada nesta sexta-feira (25) na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências, é a primeira do tipo na América Latina e apenas a segunda no mundo a identificar essas partículas no cordão umbilical — a conexão direta entre mãe e bebê.

A investigação foi liderada pelo grupo de Saúde da Mulher e da Gestação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em parceria com pesquisadores da Universidade do Havaí, e contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e do CNPq. Foram analisadas amostras de dez gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nos hospitais universitário e da mulher em Maceió.

“A placenta é um grande filtro, mas os microplásticos estão conseguindo ultrapassá-la em grande quantidade. Em 8 das 10 gestantes analisadas, havia mais partículas no cordão umbilical do que na própria placenta”, explicou o pesquisador Alexandre Urban Borbely, um dos autores do estudo.

Foram encontradas 110 partículas nas placentas e 119 nos cordões. As substâncias mais comuns foram o polietileno, presente em embalagens plásticas, e a poliamida, usada em tecidos sintéticos. A técnica utilizada para identificar os compostos foi a espectroscopia Micro-Raman, que permite análise química precisa das amostras.

Além da contaminação, o estudo observou que as amostras brasileiras, embora universalmente contaminadas, apresentaram menos aditivos químicos do que as norte-americanas. Borbely aponta que a exposição pode estar relacionada a fatores locais, como o consumo de frutos do mar e o uso de água mineral armazenada em galões plásticos expostos ao sol.

Para aprofundar os dados, a pesquisa agora será expandida para 100 gestantes e investigará possíveis correlações entre a presença de microplásticos e complicações gestacionais ou problemas de saúde em recém-nascidos. A iniciativa será conduzida pelo recém-criado Centro de Excelência em Pesquisa de Microplástico, com apoio da Finep e do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Segundo Borbely, o impacto da exposição intrauterina aos microplásticos ainda está sendo compreendido, mas os sinais preocupam. “Já existem estudos mostrando que esses plásticos afetam o metabolismo placentário, aumentam a produção de radicais livres e podem estar associados à prematuridade. Essa geração já nasce contaminada.”

Para o pesquisador, a solução deve ser coletiva e envolver políticas públicas. “Não adianta só ações individuais. Precisamos de regulamentação nacional sobre produção, descarte e controle da poluição por plásticos. Se reduzirmos o plástico no ambiente, vamos reduzir o que fica na gente”, concluiu.