Mercúrio retrógrado: o fenômeno astronômico que virou vilão da cultura pop

Nasa/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington

Na astrologia e na cultura pop, Mercúrio retrógrado é frequentemente apontado como o responsável por falhas tecnológicas, mal-entendidos, atrasos em viagens e problemas com contratos. Mas, apesar da fama de “bagunceiro cósmico”, o fenômeno não tem respaldo científico para interferir na vida das pessoas.

Tecnicamente, o chamado movimento retrógrado aparente de Mercúrio é um efeito óptico causado pela diferença de velocidade entre a Terra e o planeta mais próximo do Sol. Mercúrio completa sua órbita em apenas 88 dias, enquanto a Terra leva 365 dias para dar uma volta completa ao redor do astro. Por isso, três a quatro vezes por ano, Mercúrio “ultrapassa” a Terra em sua trajetória — e é nesse momento que o fenômeno ocorre.

O que realmente acontece no céu?

De acordo com a The Planetary Society, o movimento retrógrado de Mercúrio não é uma inversão real na órbita do planeta. O que vemos é uma ilusão de ótica. Conforme Mercúrio se aproxima da Terra e passa por ela em sua órbita, nossa perspectiva faz com que ele pareça desacelerar e mudar de direção no céu, movendo-se de leste para oeste por algumas semanas.

Esse movimento aparente costuma durar cerca de três semanas por ciclo. Depois disso, Mercúrio volta a parecer seguir seu caminho normal, de oeste para leste, no céu noturno.

Por que tanta superstição?

Embora o fenômeno seja puramente astronômico, a ideia de que Mercúrio retrógrado “causa” problemas ganhou força com a popularização da astrologia nas redes sociais e na mídia. O planeta é associado, dentro dessa tradição, à comunicação, transportes e contratos — áreas que, segundo os astrólogos, estariam mais sujeitas a confusão nesses períodos.

Mas da perspectiva científica, não há qualquer evidência de que eventos no céu afetem diretamente a vida cotidiana na Terra, além de marés influenciadas pela Lua ou alterações provocadas pela radiação solar.

Ruídos da vida moderna, não do cosmos

Em vez de culpar um planeta a milhões de quilômetros, especialistas recomendam atenção prática para lidar com imprevistos do dia a dia: revisar documentos antes de assinar, fazer backup de arquivos importantes e manter rotinas organizadas. Afinal, nenhum planeta está realmente “andando para trás” ou bagunçando nossos planos.

Assim, da próxima vez que algo sair do controle durante um “Mercúrio retrógrado”, vale lembrar: o que parece caos celeste pode ser só a vida como ela é — e não um problema vindo do espaço.