Diplomacia brasileira age para evitar prejuízo bilionário com tarifa dos EUA

© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Corpo diplomático busca solução técnica para conter escalada com governo Trump, enquanto ex-embaixadores defendem serenidade e retomada do protagonismo do Itamaraty


Enquanto o debate político nacional segue polarizado, o corpo diplomático brasileiro trabalha nos bastidores para evitar uma crise de proporções bilionárias. O motivo é a ameaça do governo dos Estados Unidos, comandado por Donald Trump, de impor tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados, com entrada em vigor prevista para 1º de agosto.

O gesto do republicano surpreendeu autoridades brasileiras e exigiu ação rápida e estratégica do Itamaraty, que busca uma solução negociada para evitar danos profundos às exportações nacionais. Diplomatas ouvidos pela imprensa na quinta-feira (10) apontam a urgência de uma diplomacia pragmática, técnica e livre das tensões político-partidárias internas.

A conduta de Trump também causou indignação no meio diplomático. “Nunca se viu uma coisa dessa natureza, um comportamento cafajeste inclusive, porque o presidente Trump manda uma carta para o presidente Lula e, antes mesmo que o presidente Lula tenha recebido a carta, publica o teor nas redes sociais. É algo absolutamente inadmissível por qualquer ponto de vista”, declarou uma fonte ligada ao Ministério das Relações Exteriores.

Para o ex-embaixador Rubens Ricupero, o momento pede serenidade. “Temos que examinar isso de maneira calma, sem perder a cabeça. Há um pouco mais de 20 dias até a entrada em vigor das tarifas, o que nos dá tempo para buscar soluções diplomáticas”, avaliou.

Já o também ex-embaixador nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, apontou que a atual crise evidencia a necessidade de o Itamaraty retomar seu protagonismo técnico. “O Itamaraty está com dificuldades para colocar posições técnicas. Muitas vezes, as falas do presidente colidem com as posturas tradicionais da diplomacia brasileira”, disse.

Barbosa considerou um erro estratégico o rompimento de canais de diálogo com o governo Trump por razões partidárias, e criticou a devolução da carta enviada pelo líder norte-americano ao presidente Lula. “Quem vai negociar é o Itamaraty, não a Casa Civil”, destacou, ao reforçar a necessidade de habilidade e conhecimento técnico diante das complexidades da diplomacia com os Estados Unidos.

A tensão entre os dois países ocorre num momento sensível para a economia brasileira, que pode sofrer impacto severo caso as novas tarifas se confirmem.