
Presidente pede fim da austeridade imposta por instituições financeiras e mais apoio ao desenvolvimento sustentável de países pobres
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira (4) a criação de novos modelos de financiamento internacional, sem as tradicionais condicionalidades e políticas de austeridade, que, segundo ele, prejudicam os países mais pobres. A declaração foi feita durante a reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics, realizada no Rio de Janeiro.
“Não é doação de dinheiro, é empréstimo para que pessoas possam ter uma chance de sair da miséria em que estão e dar um salto de qualidade”, afirmou Lula, ao criticar o modelo imposto por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Para ele, as exigências de austeridade apenas agravam a desigualdade social. “Toda vez que se fala em austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico”, disse.
O encontro no Rio é preparatório para a Cúpula de Líderes do Brics, que ocorrerá nos dias 6 e 7 de julho. Participam da reunião ministros das Finanças dos países do bloco, membros do conselho do NDB e representantes do setor empresarial.
Críticas ao sistema atual
Lula usou como exemplo o Haiti, que, segundo ele, ainda paga pelas dívidas deixadas por sua independência da França. “Descobri que o Haiti pagou pela sua independência. Se considerar o dinheiro de hoje, era preciso devolver R$ 28 bilhões ao país”, afirmou. O presidente também criticou o fato de o continente africano dever cerca de US$ 900 bilhões, com pagamentos de juros que comprometem a capacidade de investimento dessas nações.
Para Lula, é urgente uma reforma nas instituições financeiras criadas após a Segunda Guerra Mundial. “Ou discutiremos novas formas de financiamento para ajudar os países em desenvolvimento, sobretudo os mais pobres da África, Ásia e América Latina, ou esses países vão continuar pobres por mais um século”, alertou.
O papel do banco do Brics
Criado em 2014, o Novo Banco de Desenvolvimento tem como missão financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países do Brics e outras nações em desenvolvimento. A instituição é presidida atualmente pela ex-presidente Dilma Rousseff e tem sede em Xangai, na China.
Segundo Lula, 40% dos financiamentos do NDB são destinados a projetos sustentáveis. Desde sua fundação, mais de 120 projetos foram aprovados, totalizando US$ 40 bilhões em áreas como energia limpa, saneamento, transporte e proteção ambiental.
O presidente também destacou a importância de o banco realizar operações em moedas locais. Atualmente, 31% dos projetos são realizados nas moedas dos países membros. Lula sugeriu ainda que o NDB financie o estudo de viabilidade de um cabo submarino para conectar os países do Brics, fortalecendo a soberania digital do grupo.
“Nosso banco é mais do que um grande banco para países emergentes. Ele é a comprovação de que uma arquitetura financeira reformada é viável e que um novo modelo de desenvolvimento mais justo é possível”, concluiu.