Brasil lidera negociações climáticas em Bonn com foco na reconstrução da confiança e preparação para a COP30

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Sessão dos Órgãos Subsidiários da ONU sobre Mudanças Climáticas define prioridades para a conferência em Belém; delegação brasileira destaca adaptação, transição justa e implementação do Acordo de Paris


Começou nesta segunda-feira (16), no Centro Mundial de Conferências de Bonn, na Alemanha, a 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (SB 62). O encontro, que segue até o dia 26, marca o primeiro grande momento presencial de negociação climática global em 2025 e serve como base preparatória para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro, em Belém (PA).

A reunião de Bonn é considerada estratégica para organizar os temas prioritários da COP30 e reconstruir o ambiente de confiança entre as delegações, fragilizado após os impasses da COP29, em Baku. A conferência anterior terminou com mais de 30 horas de atraso e quase sem a aprovação de metas cruciais como o Novo Objetivo Coletivo Quantificado de Financiamento Climático (NCQG).

De acordo com Míriam Garcia, gerente de Políticas Climáticas do WRI-Brasil e integrante da delegação brasileira, o Brasil tem atuado de forma proativa na busca por consensos. “A conferência em Baku deixou marcas no processo multilateral. A proposta brasileira para a COP30, porém, tem sido vista como inovadora, com destaque para o ‘dia zero’ promovido no domingo (15), antes do início oficial da agenda, com o intuito de reatar a confiança entre os países”, afirmou.

A carta de visão da presidência brasileira da COP30, assinada pelo embaixador André Corrêa do Lago, orientou a delegação nacional a priorizar três grandes temas nas negociações:

  • A construção de indicadores para mensurar o Objetivo Global de Adaptação (GGA);

  • A implementação dos resultados do Balanço Global (GST);

  • O avanço no Programa de Trabalho para uma Transição Justa (JTWP).

Segundo Alexandre Prado, líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, a expectativa do país é que os avanços ocorram ainda durante as duas semanas de Bonn. “A ideia é sair daqui com processos adiantados, permitindo que a COP30 tenha um início mais produtivo e decisões menos travadas”, explicou.

O Ministério das Relações Exteriores apontou que 48 temas estarão em debate, com desdobramentos em dezenas de assuntos ligados à adaptação, mitigação, financiamento e transição energética. O Brasil tem defendido a adaptação como pilar central da COP30, com foco na criação de planos nacionais e na definição de métricas para acompanhar os compromissos assumidos.

Outro ponto de destaque é a retomada das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que definem as metas nacionais de redução de emissões de gases do efeito estufa. Apesar do Brasil já ter apresentado sua nova NDC, o país atua para pressionar outras nações a entregarem seus planos até setembro de 2025.

“O tempo para limitar o aquecimento global a 1,5ºC está se esgotando. A janela de oportunidade está cada vez mais estreita. Precisamos de compromissos mais ambiciosos e realistas”, alertou Prado. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) indica que, para alcançar essa meta, as emissões globais precisam cair 57% até 2035.

Apesar do prazo estendido, apenas 22 países atualizaram suas NDCs até o momento — o que representa cerca de 21% das emissões globais. Fatores como crises geopolíticas e falta de capacidade técnica de alguns países têm dificultado os avanços. “A construção das NDCs também é um processo doméstico e político, não apenas técnico”, ressaltou Míriam Garcia.

Para além das metas de redução, o Brasil também quer garantir que temas sociais estejam no centro da agenda. O conceito de transição justa — que conecta mudanças climáticas a questões como desigualdade social, emprego e acesso à energia — será amplamente debatido. “A presidência brasileira considera este tema essencial para aproximar a agenda climática da vida real das pessoas”, reforçou Míriam.

A sessão de Bonn também será um termômetro da participação da sociedade civil nas negociações. Após três edições da COP realizadas em países com restrições democráticas (Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão), há uma grande expectativa sobre a ampliação do espaço de mobilização e engajamento social durante a COP30 no Brasil.

A atuação brasileira em Bonn e o papel de liderança diplomática na agenda climática mundial colocam o país em posição estratégica para conduzir um debate mais justo, inclusivo e ambicioso rumo à transição para uma economia de baixo carbono.