Fraude bilionária no INSS atinge vulneráveis: indígenas, doentes e analfabetos foram vítimas

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

 

Relatório da Polícia Federal e da CGU revela que idosos, pessoas com deficiência e moradores de áreas remotas sofreram descontos indevidos em aposentadorias sem autorização

A investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) revelou um cenário alarmante de fraudes envolvendo descontos indevidos em aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). De acordo com o relatório que embasa o inquérito, os principais alvos da operação foram justamente os mais vulneráveis da população brasileira.

Entre as vítimas estão pessoas com deficiência, idosos doentes e sem possibilidade de locomoção, indígenas, analfabetos e moradores de zonas rurais distantes, que muitas vezes nem sequer têm acesso fácil a um posto da Previdência Social. Em muitos casos, os beneficiários não teriam condições de assinar autorizações ou fichas de filiação a associações ou sindicatos, o que levanta sérias suspeitas sobre a legalidade das cobranças.

Auditores da CGU realizaram entrevistas presenciais em regiões interioranas do país, como parte da força-tarefa de apuração das fraudes. Os relatos são contundentes: parentes e responsáveis afirmaram que os titulares dos benefícios jamais poderiam ter autorizado os descontos por estarem incapacitados física ou cognitivamente.

“Há registros de indígenas que vivem em aldeias, sem saber ler ou escrever, pessoas com doenças graves que impedem qualquer tipo de manifestação de vontade e até beneficiários residentes no exterior que nunca tiveram contato com tais entidades”, aponta o relatório da CGU.

O levantamento incluiu 21 entidades que realizavam descontos nas aposentadorias. Em todas elas, 100% dos entrevistados negaram ter autorizado qualquer tipo de filiação ou mensalidade. Em sete dessas entidades, o índice de negativa variou entre 71% e 99%.

Outro dado que reforça a suspeita de fraude é a distância geográfica entre os aposentados e os sindicatos ou associações aos quais supostamente estariam vinculados. Em alguns casos, a diferença ultrapassa 900 km, o que inviabilizaria qualquer interação presencial — especialmente considerando a idade e fragilidade física dos beneficiários.

“É altamente improvável que idosos acima de 60 anos tenham se deslocado até outras unidades da federação para se associar, sem acesso sequer a serviços ou suporte dessas instituições”, conclui o relatório.

O escândalo reforça a necessidade de revisão nos mecanismos de autorização de descontos em benefícios do INSS e acende um alerta para o papel das entidades intermediadoras. A apuração segue em curso e pode levar à responsabilização criminal de envolvidos no esquema.