Avanços na vacinação global estão sob ameaça, alertam OMS, Unicef e Gavi

© Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
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Crise de financiamento, desinformação e conflitos aumentam risco de surtos de doenças evitáveis como sarampo, meningite e febre amarela

A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Unicef e a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi) emitiram um alerta conjunto nesta quinta-feira (24) sobre os crescentes desafios que ameaçam os avanços da imunização global. A advertência foi feita durante a Semana Mundial de Imunização, diante do aumento nos surtos de doenças evitáveis e da queda na cobertura vacinal em várias regiões do mundo.

Entre os principais fatores apontados pelas agências estão a desinformação sobre vacinas, o crescimento populacional acelerado, crises humanitárias e cortes no financiamento global para a saúde. Segundo o comunicado, milhões de crianças, adolescentes e adultos estão sob risco elevado de contaminação por doenças que poderiam ser prevenidas com vacinas.

“As vacinas salvaram mais de 150 milhões de vidas nos últimos 50 anos. Com a imunização para todos, tudo é possível”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em publicação nas redes sociais. Ele ainda alertou que cortes recentes no financiamento global colocam em risco ganhos históricos na saúde pública e na redução da mortalidade infantil.

Surto de sarampo preocupa

Uma das maiores preocupações da OMS é o avanço do sarampo, que voltou a se espalhar “de forma especialmente perigosa” desde a pandemia de covid-19. Em 2023, mais de 10 milhões de casos foram registrados — aumento de 20% em relação a 2022 — e a tendência deve se manter em 2024 e 2025. Nos últimos 12 meses, 138 países relataram casos da doença, e 61 enfrentaram surtos de grande escala, o maior número desde 2019.

Meningite e febre amarela voltam a crescer

O relatório também destaca a alta nos casos de meningite na África, com mais de 5,5 mil casos suspeitos e quase 300 mortes apenas nos três primeiros meses de 2024. A febre amarela, que vinha em declínio na última década, também voltou a avançar: 124 casos confirmados em 12 países africanos e 131 casos registrados nas Américas, inclusive no Brasil.

Crise de financiamento e impacto nos serviços

O alerta ressalta que quase metade dos escritórios da OMS em países de baixa e média renda enfrentam interrupções moderadas ou graves nas campanhas de vacinação, na imunização de rotina e no acesso a suprimentos essenciais. A vigilância de doenças também vem sendo prejudicada em mais da metade dessas regiões.

Segundo a diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, cerca de 14,5 milhões de crianças ficaram sem receber todas as vacinas de rotina em 2023 — número que supera os 13,9 milhões de 2022 e os 12,9 milhões de 2019. “Mais da metade dessas crianças vive em áreas de conflito ou instabilidade, onde o acesso à saúde é limitado”, afirmou.

Ela ainda destacou que serviços de imunização e resposta a surtos já foram interrompidos em cerca de 50 países, com efeitos comparáveis aos vividos no auge da pandemia de covid-19. “Não podemos perder terreno na luta contra doenças evitáveis”, concluiu.

As agências pedem atenção política urgente e sustentada, além de novos investimentos internacionais para garantir que os programas de vacinação sigam protegendo vidas, comunidades e economias.