
A morte trágica da menina Sarah Raíssa, de apenas oito anos, comoveu os parlamentares que participaram da sessão ordinária desta segunda-feira (14) na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Sarah faleceu no último domingo (13) após sofrer uma parada cardiorrespiratória ao inalar aerossol, ao tentar reproduzir o chamado “desafio do desodorante”, uma perigosa tendência do TikTok.
O caso, que não é isolado — com registros semelhantes em estados como Pernambuco e São Paulo —, gerou forte comoção e pautou os discursos dos deputados distritais. A sessão teve início com um minuto de silêncio, proposto pela deputada Paula Belmonte (Cidadania), em homenagem não apenas a Sarah, mas também a outras vítimas recentes de tragédias no DF: Esthella Heloísa, de três anos, baleada no colo do avô em Ceilândia; Adrian David, de dez anos, morto por uma descarga elétrica; e Gabriel Vasconcellos, de 18, vítima de um acidente de trânsito.
Presidente da sessão, o deputado Pastor Daniel de Castro (PP) prestou solidariedade às famílias. Em seguida, Chico Vigilante (PT) trouxe uma reflexão incisiva: “Nenhum pai entrega uma arma na mão de um filho, entretanto determinadas redes sociais são piores que armas”, disse, chamando atenção para a urgência de debater a regulamentação dessas plataformas.
O tema foi reforçado por outros parlamentares. Gabriel Magno (PT) alertou sobre a fragilidade das barreiras para acesso de menores a conteúdos online. “Na internet, basta uma autodeclaração para acessar qualquer tipo de conteúdo. Isso não é liberdade, é descaso com a infância”, afirmou. Ele defendeu que as big techs devem ser responsabilizadas pelo que veiculam em suas plataformas.
Fábio Felix (Psol) ampliou a crítica, relacionando o debate ao ambiente democrático: “A lei do mundo real tem sido insuficiente para o mundo digital. É preciso tratar a regulamentação das redes sociais sob a ótica do humanismo e do respeito à diversidade. Não podemos aceitar que se lucre em cima do ódio e da dor”, frisou.
Embora o Congresso Nacional seja o foro principal para definir as regras sobre as redes sociais, iniciativas locais têm buscado dar respostas. Um dos exemplos é o projeto de lei n° 812/2023, de autoria da deputada Dayse Amarilio (PSB), que propõe a criação da Semana de Conscientização contra a Violência Virtual nas escolas públicas do DF.
Durante seu pronunciamento, Amarilio lamentou a ausência de políticas voltadas à saúde mental das crianças e adolescentes no DF. “Estamos vendo uma geração de crianças adoecidas. E isso começa no silêncio dos lares, quando confundimos privacidade com abandono. Precisamos agir também nas casas, como parte de uma política pública de saúde”, afirmou.
Max Maciel (Psol) reforçou que a internet está presente nos lares de todos e que a responsabilidade deve ser compartilhada. “Não dá para culpabilizar apenas as famílias. Precisamos de regulamentação e de ação conjunta”, declarou. O parlamentar também anunciou que cobrará da Polícia Civil esclarecimentos sobre a origem das munições disparadas na festa onde Esthella Heloísa foi baleada.
Com discursos marcados por emoção e preocupação, os distritais deram o tom de uma discussão que ultrapassa as paredes da Câmara Legislativa e exige ação coordenada entre governos, sociedade civil e plataformas digitais. A morte de Sarah, mais do que uma tragédia isolada, expôs as vulnerabilidades de uma geração que cresce conectada — mas sem proteção adequada.