Diretor da Abin e ex-adjunto prestam depoimento à PF sobre espionagem ilegal durante governo Bolsonaro

© Antonio Cruz/Agência Brasil

Depoimentos duraram cinco horas e fazem parte da investigação sobre uso indevido da Abin para monitorar autoridades; caso segue em segredo de Justiça

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e o ex-diretor adjunto do órgão, Alessandro Moretti, prestaram depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (17), em Brasília. As oitivas, que duraram cerca de cinco horas, integram as investigações sobre o suposto uso da Abin para promover monitoramentos ilegais durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Por tramitar em segredo de Justiça, os detalhes dos depoimentos não foram divulgados. Segundo a Polícia Federal, as investigações apuram a atuação de uma organização criminosa formada por policiais, delegados cedidos à Abin e servidores do órgão que teriam realizado atividades de espionagem ilegal, inclusive contra autoridades públicas.

Entre os episódios sob investigação, está uma operação para acessar informações sigilosas de autoridades do Paraguai envolvidas nas negociações do contrato de energia da usina hidrelétrica de Itaipu, operada conjuntamente por Brasil e Paraguai. A ação teria ocorrido entre junho de 2022 e março de 2023, período que compreende o fim do governo Bolsonaro e o início da gestão Lula. A denúncia foi revelada pelo Portal Uol.

A partir das novas informações, a PF convocou Corrêa e Moretti para esclarecer os fatos. Moretti foi exonerado da Abin em janeiro de 2024, enquanto Corrêa assumiu o cargo oficialmente em 29 de maio de 2023, após ser aprovado pelo Senado.

Em resposta às denúncias, o Itamaraty negou qualquer participação do atual governo nos atos de espionagem e afirmou que, ao tomar conhecimento da operação ilegal, a direção interina da Abin suspendeu imediatamente a ação em março de 2023. A chancelaria reforçou que a atividade foi iniciada durante o governo Bolsonaro, antes da posse de Corrêa.

As investigações seguem em curso e devem envolver novas oitivas e diligências nos próximos dias. O caso acende um novo alerta sobre os limites da atuação dos órgãos de inteligência e a necessidade de mecanismos rigorosos de controle e transparência.