Greve de fome de Glauber Braga entra no 8º dia e mobiliza apoio contra cassação

© Lula Marques/Agência Brasil
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Deputado do Psol está há mais de 180 horas sem se alimentar; protesto acontece após recomendação do Conselho de Ética por quebra de decoro


Há mais de 180 horas sem se alimentar, o deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) segue em greve de fome e acampado no plenário da Câmara dos Deputados. O protesto, iniciado após o Conselho de Ética recomendar a cassação de seu mandato, tem mobilizado apoio de ministros, parlamentares, lideranças populares, artistas e intelectuais.

Em nota divulgada nesta quarta-feira (16), o parlamentar afirmou que, apesar do abalo emocional da última noite, continua firme. “Dormi pouco, cerca de quatro horas. Acordei, pensei bastante e me sinto forte novamente. Não vou desistir”, declarou.

Glauber tem ingerido apenas líquidos isotônicos, evita falar para poupar energia e passa por avaliações médicas duas vezes por dia. Segundo o médico Antônio Alves, que o acompanha, o deputado apresentou sintomas leves, como dor de cabeça, mal-estar gastrointestinal e dor nas costas, além de perda de mais de quatro quilos em oito dias.

O motivo do processo é um episódio em que Braga agrediu um militante de extrema-direita que ofendeu sua mãe, que faleceu menos de um mês depois. Seus apoiadores consideram a cassação desproporcional e denunciam perseguição política, principalmente por suas críticas ao orçamento secreto.

Conflito no Conselho de Ética

O deputado João Leão (PP-BA), que votou pela cassação no Conselho de Ética, afirma que a pena se deve ao comportamento de Glauber durante as sessões. “Ele chamou o relator e o ex-presidente da Câmara de ladrões. Não respeita os pares”, justificou. Glauber, por sua vez, acusa Arthur Lira (PP-AL) e Paulo Magalhães (PSD-BA) de articularem sua cassação, o que ambos negam. Lira promete processar Braga se ele não apresentar provas.

O Psol tem até o dia 22 para recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), esposa de Glauber, afirmou que a estratégia dependerá das negociações com outros partidos. “A solidariedade que temos recebido tem sido fundamental”, disse.

Vigília e manifestações de apoio

Uma vigília foi montada em frente à Câmara na terça-feira (15) por movimentos sociais, como forma de apoio ao parlamentar e de protesto contra o PL da Anistia. “O caso do Glauber afeta a democracia por conta da perseguição que ele vem sofrendo”, afirmou a aposentada Laura Lima, integrante da Rede Lular e do coletivo Borda Luta.

Glauber recebeu visitas de ministros do governo Lula, como Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Gleisi Hoffmann e Sidônio Palmeira. Além disso, parlamentares de diferentes partidos, como Fausto Pinato (PP-SP) e Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP), prestaram solidariedade.

Artistas como Chico Buarque e o coletivo Emaús, que reúne nomes como Frei Betto e Leonardo Boff, também manifestaram apoio. Um abaixo-assinado com mais de 154 mil assinaturas contra a cassação circula na internet.

Na segunda-feira (14), um samba em apoio a Glauber foi realizado dentro da Câmara. “A solidariedade tem nos dado força para enfrentar esse longo feriado e o esvaziamento das sessões presenciais”, concluiu Sâmia Bonfim.

O caso segue repercutindo nacionalmente e promete se tornar um marco no debate sobre os limites da atuação parlamentar e a liberdade de expressão política no Congresso Nacional.