
Uma cirurgia pioneira realizada no Hospital de Base de Brasília marcou um importante avanço para a medicina brasileira. Uma paciente de 60 anos foi submetida a uma segmentectomia pulmonar anatômica por videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva utilizada para remoção de nódulos pulmonares em casos de câncer em estágio inicial. O grande diferencial do procedimento foi o uso de óculos de realidade mista, que permitiu aos cirurgiões visualizar um holograma tridimensional do pulmão da paciente em tempo real durante a operação.
A inovação proporcionou um novo nível de precisão na demarcação do tumor, algo difícil de alcançar com o uso de monitores tradicionais. Durante a cirurgia, os médicos puderam manipular e observar estruturas internas com riqueza de detalhes, sem perder a visão do ambiente real ao redor — característica essencial dos óculos de realidade mista, que utilizam lentes translúcidas.
Menos invasão, mais preservação
Com o auxílio da tecnologia, foi possível preservar uma maior porção do pulmão da paciente. De acordo com um dos médicos envolvidos, sem a tecnologia, seria necessário remover cerca de 50% do pulmão direito. Com o uso dos óculos, a ressecção foi limitada a apenas 10%, garantindo uma recuperação mais rápida e uma significativa preservação da função pulmonar.
“Para esse caso, por exemplo, esse paciente, ele ia perder, de forma convencional, metade do pulmão direito. Ele está perdendo agora 10%”, explicou o profissional.
Além da precisão, a tecnologia também contribuiu para reduzir o tempo de cirurgia e aumentar a segurança do procedimento — características que tornam a abordagem altamente promissora para o futuro da medicina, especialmente no atendimento público.
Tecnologia brasileira a serviço do SUS
O software que viabiliza essa interação em tempo real foi desenvolvido pela equipe do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Embora já esteja em uso em hospitais da rede privada, o sistema vem sendo aplicado de forma experimental em cirurgias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Brasília — uma iniciativa que busca democratizar o acesso a tecnologias de ponta.
Especialistas apontam que esta é a primeira vez no Brasil que dados anatômicos do paciente são integrados à tecnologia de realidade mista durante uma cirurgia, o que abre caminho para sua aplicação em outros procedimentos de alta complexidade.
Futuro promissor para a saúde pública
A expectativa é que, com o tempo, mais hospitais — tanto públicos quanto privados — possam incorporar a realidade mista às salas cirúrgicas. O objetivo é melhorar a qualidade dos procedimentos, aumentar a segurança dos pacientes e reduzir os impactos pós-operatórios, especialmente em tratamentos delicados como o de câncer.
Este avanço representa um marco para a medicina nacional, principalmente em um contexto onde o acesso à tecnologia de ponta no setor público ainda é limitado. Com a inovação, o Brasil dá um passo significativo em direção a uma medicina mais precisa, menos invasiva e mais acessível.