
Relatório global aponta aumento preocupante e especialistas pedem medidas urgentes de saúde pública
A obesidade já afeta 31% da população brasileira, e a tendência é que essa porcentagem aumente nos próximos cinco anos, segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2024, divulgado nesta segunda-feira (3) pela Federação Mundial da Obesidade (WOF). O estudo revela que 68% dos brasileiros vivem com excesso de peso, sendo 37% com sobrepeso e 31% com obesidade.
A projeção é alarmante: até 2030, o número de homens com obesidade pode crescer 33,4%, enquanto entre as mulheres o aumento pode chegar a 46,2%.
O levantamento também aponta as graves consequências do sobrepeso e da obesidade. Em 2021, 60,9 mil mortes prematuras no Brasil foram atribuídas a doenças crônicas não transmissíveis ligadas ao excesso de peso, como diabetes tipo 2 e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Obesidade é um problema de saúde pública, dizem especialistas
Diante do crescimento acelerado da obesidade, o endocrinologista Marcio Mancini, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), alerta que a questão precisa ser tratada como um problema de saúde pública.
“Não dá mais para responsabilizar apenas o indivíduo. Não dá para dizer para alguém que sai às 5h da manhã, passa horas no transporte público e chega às 21h em casa para comer melhor e ir à academia. O problema precisa ser enfrentado com políticas públicas”, defende.
Entre as ações sugeridas pelo médico estão o aumento de impostos sobre bebidas açucaradas, a rotulagem clara de alimentos com altos níveis de açúcar, sódio e gorduras saturadas, além de reduzir o preço de alimentos saudáveis e promover campanhas educativas contínuas nas escolas.
“Falar sobre alimentação saudável uma vez por ano na escola não adianta nada. Ninguém muda seus hábitos dessa forma. Precisamos de um trabalho permanente”, reforça.
Mancini também destaca que fatores como segurança pública e infraestrutura urbana impactam diretamente os hábitos da população.
“A violência urbana e a falta de iluminação nas ruas fazem com que as pessoas tenham medo de andar. Se tivéssemos parques em todas as regiões da cidade, calçadas adequadas e transporte público de qualidade, a população poderia se movimentar mais e ter uma vida mais ativa”, afirma.
Situação global: obesidade pode atingir 1,5 bilhão de pessoas até 2030
O Atlas aponta que a obesidade já afeta mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo e pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030 se medidas eficazes não forem adotadas. Atualmente, dois terços dos países não estão preparados para lidar com esse problema, e apenas 7% possuem sistemas de saúde adequados para enfrentá-lo.
A obesidade está relacionada a 1,6 milhão de mortes prematuras por ano, superando até mesmo os acidentes de trânsito. Segundo a Federação Mundial da Obesidade, a solução deve envolver toda a sociedade, incluindo políticas públicas de alimentação, taxação de produtos ultraprocessados e incentivo à prática de atividades físicas.
Os números brasileiros são menos alarmantes que os dos Estados Unidos, onde 75% da população tem excesso de peso e 44% está obesa, mas ainda piores do que os da China, que registra 41% da população com sobrepeso e 9% com obesidade.
“Apesar do aumento do consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil, ainda estamos em melhor situação que os Estados Unidos. Mas este é o momento de agir para evitar que os números piorem ainda mais”, alerta Mancini.
Campanha global busca conscientização sobre o problema
Com o objetivo de mobilizar governos e a sociedade, a campanha “Mudar o Mundo Pela Saúde” busca promover ações concretas para enfrentar a obesidade.
Nesta terça-feira (4), quando se celebra o Dia Mundial da Obesidade, a Abeso e a SBEM lançam um e-book gratuito, intitulado “Mudar o Mundo Pela Nossa Saúde”, com propostas para melhorar políticas públicas, iniciativas privadas e ações comunitárias para prevenir e tratar a obesidade.
Diante dos dados preocupantes, especialistas reforçam que o combate à obesidade deve ir além de mudanças individuais e exigir ações coletivas para garantir uma vida mais saudável para a população.