Marte pode ter “enferrujado” antes do que se pensava, apontam cientistas

A versão colorida à mão da imagem da Mariner 4 faz parte de uma exposição no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa em Pasadena, Califórnia. As iniciais "RLG" (canto inferior direito) pertencem a Richard Grumm. Dan Goods/NASA/JPL-Caltech

Nova pesquisa sugere que a cor vermelha do planeta pode ser resultado de um mineral formado na presença de água, mudando a compreensão sobre seu passado

A icônica coloração vermelha de Marte pode ter se formado muito antes do que os cientistas imaginavam, e a explicação pode estar em um mineral que depende da presença de água. Um estudo publicado na revista Nature Communications sugere que, em vez da hematita – um óxido de ferro seco –, a tonalidade do planeta pode ser explicada pela presença de ferrihidrita, um mineral que se forma em ambientes frios e úmidos.

A descoberta, feita por uma equipe internacional de cientistas, desafia teorias anteriores e pode reescrever a história da água em Marte, indicando que o planeta foi habitável por mais tempo do que se pensava.

Ferrugem em Marte: nova explicação para o Planeta Vermelho

Marte é um dos planetas mais estudados do sistema solar, com inúmeras missões coletando dados sobre sua superfície. Até então, acreditava-se que a cor avermelhada vinha da hematita, formada por reações químicas entre ferro e a atmosfera marciana ao longo de bilhões de anos.

Contudo, análises mais recentes indicam que a ferrihidrita, que contém água, pode ser a verdadeira responsável pela poeira avermelhada que cobre Marte. O mineral se forma quando ferro interage com água fria e oxigênio, sugerindo que o planeta manteve água líquida por mais tempo do que o estimado anteriormente.

“A ferrihidrita só poderia ter se formado quando ainda havia água na superfície”, explica Adomas Valantinas, pesquisador da Universidade Brown e principal autor do estudo. “Isso significa que Marte pode ter enferrujado antes do que pensávamos.”

Como os cientistas chegaram a essa conclusão?

Para testar essa hipótese, a equipe utilizou dados de múltiplas missões espaciais e criou uma réplica da poeira marciana em laboratório. Com o auxílio do Trace Gas Orbiter, uma nave da Agência Espacial Europeia (ESA) que monitora Marte desde 2018, os pesquisadores puderam comparar as amostras artificiais com as medições feitas no planeta.

Os resultados indicaram que a composição da poeira marciana era mais compatível com a ferrihidrita do que com a hematita. Isso significa que a água pode ter sido mais abundante em Marte durante sua história geológica, aumentando as chances de que o planeta tenha sido um ambiente habitável.

O que isso significa para a busca por vida?

Se a ferrihidrita realmente for a responsável pela coloração de Marte, isso pode ter implicações importantes na busca por sinais de vida. A presença prolongada de água líquida é um dos principais critérios para a existência de vida, e esse novo estudo sugere que Marte pode ter abrigado água por mais tempo do que se pensava.

O próximo passo será analisar diretamente amostras da superfície marciana, algo que pode se tornar realidade com a missão Mars Sample Return, prevista para trazer rochas e poeira do planeta vermelho à Terra na década de 2030.

“Assim que tivermos essas amostras em laboratório, poderemos medir exatamente quanta ferrihidrita Marte contém e o que isso significa para nossa compreensão da história da água e da vida no planeta”, afirmou Colin Wilson, cientista da ESA.

Novos mistérios a serem resolvidos

Embora a descoberta traga novas perspectivas sobre a história de Marte, ela também levanta novas questões. Os cientistas agora querem descobrir onde a ferrihidrita se formou originalmente antes de ser espalhada por tempestades de poeira e qual era a composição da atmosfera marciana na época.

“Entender quando e onde a poeira se formou pode nos ajudar a compreender melhor a evolução de atmosferas em planetas semelhantes à Terra”, disse a cientista planetária Briony Horgan, da Universidade Purdue.