
Com tratamento gratuito pelo SUS e apoio de grupos como o Alcoólicos Anônimos, dependentes encontram novos caminhos para uma vida sem álcool
Ao ouvir relatos de outras pessoas, Bernardino Freitas, de 60 anos, percebeu que não estava sozinho. Após anos de dependência alcoólica, ele decidiu buscar ajuda no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e, há dois anos, está longe do vício. “Hoje me sinto muito melhor”, afirma o aposentado, que participa de grupos terapêuticos e encontrou no tratamento um novo sentido para sua vida.
A luta contra o alcoolismo é um desafio de saúde pública no Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito e especializado por meio da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), composta por 6.397 unidades em todo o país, incluindo 3.019 Caps. Essas unidades possuem atendimento livre, sem necessidade de agendamento, e contam com equipes multidisciplinares para ajudar pacientes em diferentes estágios da dependência.
No entanto, especialistas apontam desafios. A socióloga Mariana Thibes, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), destaca a necessidade de maior qualificação dos profissionais para identificação precoce da dependência, ampliação do acesso a tratamentos e combate ao estigma social que dificulta a busca por ajuda.
A pandemia de covid-19 agravou o problema, aumentando o consumo de álcool e dificultando o acesso aos tratamentos. Além disso, questões como racismo estrutural e desigualdade de gênero impactam o acesso à saúde. Dados mostram que 72% das mulheres vítimas de transtornos por álcool são negras, refletindo dificuldades no atendimento médico adequado.
Outra preocupação é a influência da publicidade. Embora a legislação restrinja a propaganda de bebidas alcoólicas, redes sociais e influenciadores ainda não são regulamentados, promovendo o consumo sem alertas adequados sobre os riscos.
Além do apoio familiar e do tratamento oferecido pelo SUS, grupos como os Alcoólicos Anônimos (AA) desempenham um papel essencial na recuperação de dependentes. Com 90 anos de existência e presente em 180 países, o AA tem mais de 3.800 grupos no Brasil, oferecendo reuniões presenciais e virtuais.
Histórias como a de Ana, que começou a beber aos 12 anos e encontrou no AA um caminho para reconstruir sua vida, mostram a importância do suporte contínuo. “O AA salvou minha vida. Consegui me formar, casei e hoje faço planos sem álcool”, relata.
O alcoolismo é uma doença que afeta milhões de brasileiros, mas há caminhos para superá-lo. Com tratamento acessível, apoio comunitário e políticas públicas eficazes, mais pessoas podem reencontrar a sobriedade e reconstruir suas vidas.