
Empresa responsável pelo projeto interrompe temporariamente serviço após proibição de pagamento por biometria
A Tools For Humanity, empresa responsável pelo projeto World ID, anunciou nesta terça-feira (11) que suspenderá temporariamente a verificação de íris no Brasil. A decisão ocorre após a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) proibir a remuneração de pessoas pela coleta dessa biometria.
Em nota, a empresa afirmou que respeita a decisão do órgão regulador e que precisa de tempo para se adequar às novas regras:
“Para permitir que a World conclua as mudanças em coordenação com a ANPD e garanta conformidade durante esse processo, estamos voluntariamente e temporariamente pausando o serviço de verificações. Os espaços físicos da World permanecerão abertos para fornecer educação e informações ao público e pedimos desculpas por qualquer inconveniente.”
O World ID utiliza padrões da íris para criar um código de validação, que, segundo a empresa, é impossível de ser falsificado por inteligência artificial. A tecnologia é baseada em uma câmera avançada, chamada Orb, desenvolvida para diferenciar humanos de robôs e sistemas de IA.
Decisão da ANPD e questionamentos sobre consentimento
A suspensão do serviço veio após a ANPD negar um recurso da Tools For Humanity, que solicitava 45 dias adicionais para implementar mudanças no aplicativo e interromper a oferta de compensação financeira. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira (11).
Em nota, a ANPD reafirmou que a medida reforça o compromisso do órgão com a proteção da privacidade e dos dados pessoais no Brasil. A decisão ocorre cerca de três semanas após a agência proibir temporariamente a empresa de oferecer pagamento — seja em criptomoeda (WorldCoin – WLD) ou em qualquer outro formato — para aqueles que tivessem suas íris escaneadas.
Especialistas em proteção de dados alertam para possíveis irregularidades no consentimento dos participantes do projeto. O pesquisador Nathan Paschoalini, da Data Privacy Brasil, destacou que muitas pessoas estavam aderindo ao escaneamento motivadas exclusivamente pelo pagamento, sem plena compreensão do propósito da iniciativa:
“A impressão que passa é a de que o sujeito não está indo lá coletar a sua íris para se autenticar online, mas sim interessado em receber aqueles valores prometidos e oferecidos. Estamos falando de pessoas potencialmente mais pobres aderindo a essa prática.”
A Data Privacy Brasil apoiou a decisão da ANPD, argumentando que a prática pode configurar “vício de consentimento”, o que é proibido pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O órgão regulador brasileiro segue a mesma linha de autoridades europeias, que também questionaram a legalidade do consentimento obtido pela empresa.
Agora, a Tools For Humanity terá que adaptar seu projeto às normas brasileiras para retomar suas operações no país.