Governo busca aproximação com bancada evangélica em meio a desafios políticos

© Roque de Sá/Agência Senado

 

Grupo conservador do Congresso já teve histórico governista, mas endureceu relação com o Executivo após a gestão Bolsonaro

 

 

Com o retorno das atividades no Congresso Nacional, um dos principais desafios do governo federal é a reaproximação com a bancada evangélica, composta por parlamentares conservadores que historicamente mantiveram proximidade com o Executivo, mas que se distanciaram após a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com especialistas, a bancada evangélica sempre teve posições conservadoras em pautas de costumes, mas, no passado, costumava apoiar governos de diferentes espectros políticos em temas econômicos e administrativos. “Não importa se era governo de esquerda ou de direita, era um grupo próximo ao Executivo”, afirma o pesquisador André Ítalo. Um dos motivos para essa proximidade, segundo ele, é a defesa de interesses como a manutenção da isenção tributária para igrejas.

O cenário mudou durante a gestão Bolsonaro, que consolidou uma relação de afinidade ideológica com o grupo. Com o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, a bancada da bíblia se afastou do governo, tornando-se mais resistente às pautas do Executivo.

Crescimento e influência política

Apesar da influência no Congresso, o crescimento da bancada evangélica tem sido mais lento nos últimos anos, acompanhando a desaceleração do aumento da população evangélica no Brasil. Atualmente, o grupo conta com cerca de 90 a 100 deputados na Câmara e entre 10 a 15 senadores. Esses números representam uma presença menor do que a parcela da população evangélica no país, que gira em torno de 30%.

O professor Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), destaca que a bancada evangélica não é homogênea e possui diferentes estratégias políticas. Ele cita como exemplo o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, que ampliou sua influência ao atrair políticos de fora do segmento religioso, como o presidente da Câmara, Hugo Motta.

No entanto, o crescimento político do grupo trouxe desafios. Segundo Barreto, há uma pressão da base evangélica, que se tornou mais conservadora e alinhada à direita, limitando a flexibilidade dos parlamentares em suas decisões políticas.

Origem e articulação política

A presença de evangélicos na política brasileira remonta à eleição de Levi Tavares, primeiro pastor eleito deputado federal, em 1967. No entanto, foi apenas na Constituinte de 1986 que o termo “bancada evangélica” se consolidou, quando igrejas passaram a se mobilizar para evitar uma possível hegemonia do catolicismo na nova Constituição.

Hoje, a Frente Parlamentar Evangélica reúne 219 deputados e 26 senadores, incluindo parlamentares de centro e até de esquerda. Como a bancada evangélica isoladamente não tem número suficiente para criar uma frente, conta com apoio de outros congressistas para fortalecer sua atuação.

O grupo realiza reuniões semanais para mapear pautas prioritárias no Congresso e alinhar estratégias. Atualmente, a frente é coordenada pelo deputado Silas Câmara (Republicanos-AM). A reportagem tentou contato com a assessoria do parlamentar para comentar as atividades do grupo, mas não obteve resposta.