Especialistas alertam para riscos dos sachês de nicotina

Foto de Amritanshu Sikdar na Unsplash

 

Produto pode causar dependência, problemas cardíacos e até aumentar o risco de câncer

 

 

Os sachês de nicotina, também conhecidos como pouches ou snus, vêm ganhando popularidade como uma alternativa ao cigarro e ao vape. No entanto, especialistas alertam que eles não são uma opção segura para quem deseja parar de fumar ou reduzir os danos do tabagismo. Com concentrações de nicotina que variam entre 6 mg e 25 mg por sachê — muito superiores à quantidade presente em um cigarro convencional (cerca de 1 mg por unidade) —, o uso do produto pode gerar sérios impactos à saúde.

Diferente do cigarro, os sachês não são inalados, mas sim colocados entre a gengiva e o lábio, liberando nicotina diretamente na boca. Essa absorção rápida pode causar uma falsa sensação de menor risco, mas, segundo a consultora da Fundação do Câncer, Milena Maciel, os danos são expressivos.

“A mucosa oral tem muitos vasos, então a velocidade de absorção é mais rápida. A nicotina chega rapidamente ao cérebro e ao sangue”, explica Milena. O efeito da substância no cérebro provoca prazer imediato, mas, quando passa, pode gerar ansiedade e irritação, incentivando o usuário a consumir doses cada vez maiores.

Impactos à saúde

Além do vício, os sachês de nicotina podem favorecer o crescimento de células cancerígenas, aumentando o risco de câncer, mesmo sem a fumaça dos cigarros tradicionais. Segundo Milena Maciel, o produto contém outras substâncias tóxicas, como níquel, cromo, amônio e formaldeído, este último altamente cancerígeno.

Os riscos também envolvem problemas cardiovasculares, já que a nicotina eleva a pressão arterial, acelera os batimentos cardíacos e provoca vasoconstrição, dificultando a circulação sanguínea e aumentando as chances de doenças do coração. Além disso, o modo de consumo pode causar ressecamento da mucosa, gengivite, cáries e até perda dos dentes.

Mesmo produtos à base de nicotina, como adesivos e gomas de mascar, são usados com restrições médicas para auxiliar na interrupção do tabagismo. Milena reforça que os sachês não devem ser considerados uma opção para parar de fumar.

“No tratamento contra o tabagismo, a nicotina é administrada com dosagens controladas e acompanhamento terapêutico. Não é porque a substância está presente no tratamento que pode ser usada de qualquer jeito”, alerta a especialista.

Regulamentação e risco para jovens

Atualmente, os sachês de nicotina não são regulamentados no Brasil, mas podem ser comprados facilmente pela internet. Em janeiro, a Vigilância Sanitária de Mato Grosso do Sul apreendeu mais de 2 mil unidades do produto enviadas pelos Correios.

A venda do produto apela para os mesmos argumentos dos cigarros eletrônicos, destacando que ele não produz fumaça nem cheiro, pode ser usado discretamente e oferece diversos sabores. Essa estratégia tem atraído crianças e adolescentes, alerta Milena.

“Pessoas que nunca pensaram em fumar estão achando bonito e querendo experimentar. As embalagens são chamativas, os sabores variados… Parece algo moderno e tecnológico”, critica a consultora.

Diante desse cenário, Milena defende que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) inicie um processo regulatório para o produto, incluindo a proibição da fabricação, importação, comercialização, transporte e propaganda, assim como foi feito com os vapes no ano passado.