Mamografia de rastreio: idade para início do exame gera debate entre especialistas

Foto de National Cancer Institute na Unsplash

 

Ministério da Saúde recomenda rastreamento a partir dos 50 anos, mas entidades médicas defendem início aos 40

 

 

A idade ideal para iniciar a mamografia de rastreio voltou a ser tema de discussão entre especialistas, entidades médicas e órgãos reguladores. O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) recomendam a realização do exame a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos. No entanto, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) defende o início do rastreamento aos 40 anos, com exames anuais.

A divergência ganhou visibilidade após a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) submeter à consulta pública a atualização do Manual de Boas Práticas em Atenção Oncológica. O documento propõe um modelo de rastreamento que segue o protocolo do SUS, priorizando exames bienais apenas a partir dos 50 anos.

Divergências e impactos na detecção precoce

Entidades médicas criticam a decisão da ANS e argumentam que o protocolo pode retardar o diagnóstico em uma faixa etária significativa. “No Brasil, 25% dos casos de câncer de mama ocorrem entre 40 e 50 anos. Se o rastreamento só começa aos 50, postergamos o diagnóstico, aumentando a chance de a doença ser identificada em estágio avançado”, alerta a mastologista Rosemar Rahal, da SBM.

O diretor-geral do Inca, Roberto Gil, rebate afirmando que a recomendação do órgão segue diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo ele, os estudos mostram que a mamografia antes dos 50 anos pode gerar mais diagnósticos equivocados, levando a exames invasivos desnecessários. “O rastreamento deve focar na faixa etária onde há comprovação de redução da mortalidade, evitando sobrecarga no sistema de saúde”, explica.

Cobertura dos planos de saúde não será alterada

A consulta pública gerou preocupação nas redes sociais, com receios de que planos de saúde pudessem restringir a cobertura da mamografia para mulheres abaixo dos 50 anos. A ANS esclareceu que a mudança se aplica apenas ao programa de certificação de operadoras e não altera o rol obrigatório de exames. Atualmente, os planos são obrigados a cobrir mamografias conforme indicação médica para qualquer idade e, de forma preventiva, para mulheres de 40 a 69 anos.

Mesmo assim, entidades médicas alertam para possíveis consequências indiretas. “Se a ANS reconhece apenas o rastreamento a partir dos 50 anos como boa prática, as operadoras podem adotar essa diretriz para limitar exames na saúde suplementar”, pontua Rahal.

Diante da polêmica, a ANS abriu um prazo de 30 dias para que as entidades apresentem estudos científicos que embasem pedidos de revisão dos critérios. Além disso, a agência informou que recebeu mais de 63 mil contribuições durante a consulta pública e analisará todas as propostas antes da publicação da versão final do manual.