
Estudo inédito da USP revela partículas microscópicas de plástico no bulbo olfatório humano, levantando preocupações sobre os efeitos na saúde
Pequenos demais para serem vistos a olho nu, os microplásticos estão em todos os lugares: alimentos, bebidas, solo, ar e até no corpo humano. Agora, cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) detectaram essas partículas no cérebro humano pela primeira vez, especificamente no bulbo olfatório, estrutura responsável por processar cheiros.
O estudo, conduzido por Thais Mauad, Luís Fernando Amato Lourenço e Regiani Carvalho de Oliveira, analisou amostras de oito pessoas que viveram por pelo menos cinco anos em São Paulo. Utilizando protocolos rigorosos para evitar contaminações e técnicas avançadas de análise no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, os pesquisadores encontraram de uma a quatro partículas de microplásticos por fragmento de bulbo analisado, com tamanhos variando entre 5,5 e 26,4 micrômetros.
A maior parte das partículas identificadas era composta por polipropileno (PP), amplamente utilizado em embalagens e equipamentos médicos. Também foram detectados polietileno e outros polímeros. Os resultados, publicados na revista JAMA Network Open, reforçam a preocupação com os efeitos dos microplásticos em um órgão tão protegido como o cérebro, uma vez que esses materiais precisaram atravessar a barreira hematoencefálica, um filtro natural que impede a entrada de compostos prejudiciais.
Estudos anteriores já haviam associado os micro e nanoplásticos a inflamações, morte celular e outros problemas em experimentos com animais. Além disso, uma pesquisa italiana recente sugeriu que a presença desses materiais em placas de gordura nas artérias pode estar ligada a um aumento significativo no risco de infarto e AVC.
Com o aumento exponencial da produção de plásticos desde a década de 1950, é impossível eliminar totalmente a exposição a micro e nanoplásticos. No entanto, especialistas recomendam medidas individuais, como reduzir o uso de utensílios plásticos e evitar alimentos embalados nesse material.
Embora os impactos precisos na saúde humana ainda sejam estudados, o consenso entre os cientistas é claro: a presença de microplásticos no cérebro é um alerta de que os limites da poluição plástica já foram ultrapassados, exigindo ações urgentes para mitigar seus efeitos.