Pesquisadores monitoram aves migratórias para prevenir próxima pandemia

Foto de Chanan Greenblatt na Unsplash

 

Equipe científica coleta dados vitais na Baía de Delaware em meio à ameaça do vírus H5N1

 

 

Sob a primeira lua cheia de maio, a Baía de Delaware, nos Estados Unidos, torna-se palco de um espetáculo ecológico único. Caranguejos-ferradura emergem para acasalar e depositar ovos, seguidos por centenas de milhares de aves migratórias que descem às praias para se alimentar. Este ciclo natural, além de ser um evento fascinante, é também uma oportunidade crucial para pesquisadores que monitoram vírus da gripe em aves e buscam prevenir pandemias.

O alerta do H5N1

Este ano, o trabalho dos cientistas ganhou um novo senso de urgência. O perigoso vírus H5N1, altamente patogênico, está devastando rebanhos de aves e, pela primeira vez, foi detectado em gado leiteiro nos Estados Unidos, aumentando os temores de que possa evoluir para infectar humanos mais facilmente.

A equipe do St. Jude Children’s Research Hospital, liderada por Pamela McKenzie e Patrick Seiler, tem monitorado a região há quase 40 anos. Eles coletam amostras de fezes de aves para rastrear a disseminação de vírus da gripe ao longo das rotas migratórias que conectam a América do Sul ao Ártico.

“É um verdadeiro tesouro por aqui”, afirma McKenzie, enquanto coleta guano fresco com cotonetes e armazena em frascos para análise.

Vigilância contínua

Desde 1985, quando o renomado virologista Dr. Robert Webster revelou que o vírus da gripe se replica no trato intestinal das aves, a Baía de Delaware tornou-se um ponto estratégico para estudos de influenza. As amostras coletadas alimentam um banco de dados global que ajuda a rastrear cepas de gripe e prever possíveis surtos.

Este ano, a equipe ampliou sua vigilância para novos territórios. Um laboratório móvel foi testado para acelerar a identificação de vírus em campo. “Se pudermos analisar rapidamente as amostras positivas, ganhamos tempo crucial”, explica Lisa Kercher, diretora de operações laboratoriais.

Embora as amostras coletadas na Baía de Delaware não tenham detectado o H5N1, a equipe encontrou o genótipo D1.1 em patos no Tennessee. Esta variante, que já causou infecções humanas graves, é monitorada de perto por sua potencial capacidade de transmissão entre pessoas.

Impactos e próximos passos

O H5N1 já demonstra capacidade de infectar mamíferos e evoluir rapidamente, tornando a vigilância em aves migratórias essencial. Um estudo recente destacou que aves selvagens são um reservatório crescente do vírus na América do Norte, dificultando o controle por meio do abate de rebanhos infectados.

“Essas aves transportam vírus por longas distâncias e os disseminam durante suas paradas”, explica Kercher. Apesar de ainda não saberem o que o futuro reserva, a equipe planeja continuar o monitoramento. Em maio do próximo ano, sob a lua cheia, eles estarão novamente na Baía de Delaware, atentos a qualquer sinal de mudança que possa indicar a próxima ameaça global.

 

Com informações da CNN