Incêndios em 2024 aumentaram 43% em relação ao ano passado; impacto é devastador no Pará
A Amazônia enfrentou em 2024 o maior número de focos de calor em 17 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Até o início de dezembro, foram registrados 137.538 focos, marcando um aumento de 43% em relação ao ano anterior, que contabilizou 98.646. Este ano, a maior parte das ocorrências foi registrada entre julho e novembro, com destaque para setembro, que somou 41.463 focos, superando a média histórica de 32.245.
O agricultor Francisco Wataru Sakaguchi, de Tomé-Açu, no Pará, descreve o drama vivido por comunidades afetadas pelos incêndios. “Minha situação está resolvida, fiquei mais protegido. Mas muita gente perdeu tudo. O desespero é grande, e só conseguimos oferecer apoio moral”, relatou em vídeo enviado ao TEDxAmazônia.
Pará lidera queimadas e enfrenta colapso ambiental
O Pará, onde a Amazônia é o bioma predominante, concentrou mais da metade dos focos de calor no país, com 54.561 ocorrências. Os municípios mais impactados incluem São Félix do Xingu (7.353), Altamira (5.992) e Novo Progresso (4.787).
O céu em diversas cidades paraenses foi tomado por uma densa camada de fumaça, prejudicando a qualidade do ar e levando Santarém a decretar situação de emergência ambiental. Em novembro, a poluição atmosférica no município foi 42,8 vezes superior ao limite anual recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De setembro a novembro, Santarém registrou 6.272 atendimentos médicos relacionados a problemas respiratórios.
Daniel Gutierrez, brigadista voluntário em Alter do Chão, destacou o agravamento da situação. “Nos últimos meses, parece que uma nuvem estacionou. A fumaça que sentimos este ano foi a pior em dez anos. O fogo aqui é quase sempre provocado pela ação humana”, afirmou.
Impactos do fogo e causas estruturais
A vegetação amazônica, naturalmente úmida e não adaptada ao fogo, sofre danos severos em comparação a outros biomas como o Cerrado, que possui resistência natural ao fogo. “A Floresta Amazônica tem cascas finas e folhas membranosas, o que aumenta os impactos dos incêndios”, explicou Alexandre Tetto, coordenador do Firelab da Universidade Federal do Paraná.
Fatores climáticos, como estiagens prolongadas, baixa umidade e ventos fortes, favoreceram a propagação do fogo este ano. Apesar disso, segundo especialistas, a maior parte dos focos é resultado de desmatamento e queimadas ilegais.
Soluções e desafios
Embora o uso controlado do fogo seja permitido em algumas condições para pequenos agricultores, Alexandre Tetto ressalta a necessidade de regulamentação rigorosa. “A queima controlada pode ser segura e útil em certos contextos, mas deve ser feita sob condições climáticas adequadas e com autorização”, afirma.
Os incêndios florestais de 2024 não apenas devastaram áreas naturais e habitats, mas também deixaram comunidades inteiras em situação de vulnerabilidade. Combater as causas humanas dos incêndios e aprimorar as investigações são passos cruciais para proteger a Amazônia e as populações que dela dependem.