Vacina contra o HPV reduz mortes por câncer de colo de útero em jovens

Foto de Mufid Majnun na Unsplash

 

 

Pesquisa nos EUA mostra impacto significativo da imunização, mas alerta para queda na cobertura vacinal após a pandemia

 

 

Um estudo publicado na revista científica JAMA Network revelou que a vacinação contra o HPV (papilomavírus humano) reduziu em 62% as mortes por câncer de colo de útero entre mulheres com menos de 25 anos nos Estados Unidos. A pesquisa é a primeira a indicar diretamente o impacto da imunização na mortalidade causada pelo tumor.

O HPV, um vírus sexualmente transmissível, possui mais de 100 tipos, sendo que pelo menos 14 são considerados cancerígenos, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Destes, os tipos 16 e 18 são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero. Além disso, o HPV está associado a outros tipos de câncer, como os de ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe.

Impacto e desafios nos EUA

Entre 2019 e 2021, o número de mortes por câncer de colo de útero em jovens americanas caiu para 13, um declínio expressivo em comparação às décadas de 1990, quando o número variava entre 50 e 60 por período de três anos. Apesar do avanço, a baixa adesão à vacina preocupa. Apenas 60% dos adolescentes de 13 a 15 anos receberam as doses recomendadas, enquanto a meta nacional é 80%, segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças).

“Houve um declínio na vacinação contra o HPV após a pandemia de Covid-19. Isso é preocupante, pois pode comprometer os ganhos alcançados”, alerta Ashish Deshmukh, autor do estudo e pesquisador do MUSC Hollings Cancer Center.

Situação no Brasil

No Brasil, a vacina contra o HPV está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014 para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. No entanto, a cobertura vacinal também sofreu quedas nos últimos anos.

“A interrupção de campanhas e a redução na busca por unidades de saúde durante a pandemia impactaram a adesão. Estamos abaixo da meta de 80% estabelecida pelo Ministério da Saúde”, aponta a ginecologista Émile Almeida. Ela ressalta a necessidade de campanhas de conscientização para proteger uma geração contra o HPV e suas complicações.

Relação entre HPV e câncer

O HPV pode causar alterações celulares no colo do útero, especialmente pelos subtipos 16 e 18. “O vírus interfere no ciclo celular, levando a mutações que podem evoluir para lesões pré-cancerosas e, eventualmente, para câncer cervical”, explica Almeida.

O rastreamento regular com o exame de Papanicolau é fundamental para detectar alterações iniciais. Além disso, a prevenção pode ser reforçada com o uso de preservativos e, em alguns casos, o dispositivo intrauterino (DIU). Estudos sugerem que o DIU de cobre, por exemplo, provoca uma resposta inflamatória local que dificulta a persistência do vírus.

Educação e conscientização

A especialista destaca que a educação sexual é essencial para aumentar a conscientização sobre a transmissão do HPV e a importância da vacinação. “Acompanhamento ginecológico regular é crucial para detectar alterações iniciais e evitar a evolução para o câncer”, conclui Almeida.

A vacinação, combinada com medidas preventivas e rastreamento, continua sendo a estratégia mais eficaz na luta contra o câncer de colo de útero, especialmente entre as populações mais jovens.