Flora, a Menina Tagarela, Enfrenta o Câncer com Coragem e Esperança

© Wilson Dias/Agência Brasil

 

Aos 9 anos, Flora compartilha sua luta contra o câncer infantil, enquanto sua família divulga a importância do diagnóstico precoce e da visibilidade sobre a doença.

 

Flora, uma menina de 9 anos, é uma verdadeira tagarela, mas com um olhar doce e um sorriso contagiante que encantam a todos ao seu redor. Embora seja quietinha na escola, onde adora matemática e se sai bem nas aulas de português, redação e inglês, em casa ela se solta, falando sobre suas histórias, suas aventuras com amigos e sobre seus filmes e gibis favoritos. No entanto, Flora carrega uma batalha silenciosa, um “dodói” que a acompanha desde a infância: um tumor cerebral chamado astrocitoma pilocítico.

Sua mãe, Cris Pereira, sambista e mãe também da jovem Poema, de 15 anos, e seu pai, Guto Martins, músico, não hesitam em falar sobre o diagnóstico de Flora, pois sabem o quão crucial é dar visibilidade ao câncer infantil. “É fundamental falar sobre o câncer infantil”, afirma Cris. A mãe recorda que o primeiro sinal da doença surgiu quando Flora tinha apenas seis meses: um pequeno estrabismo no olho esquerdo, que mais tarde seria identificado como um dos primeiros sintomas do tumor.

Após um ano de incertezas e exames, o diagnóstico veio: o tumor já estava com seis centímetros. “Foi como se a gente tivesse passado por um portal e que nunca nada seria como antes”, relembra Cris. Em outubro de 2016, Flora passou pela primeira cirurgia para remoção do tumor. Essa foi a primeira de uma série de desafios que a família enfrentaria, começando com ciclos de quimioterapia e uma rotina médica intensa.

A jornada de Flora, que já ultrapassou os 120 ciclos de quimioterapia, levou os pais a compartilhar suas vivências com outras famílias que enfrentam a mesma situação. Criaram uma página no Instagram, @mamaetocomcancer, para dividir as vitórias e desafios cotidianos, além de ajudar a disseminar a importância da luta pelo tratamento e pelo apoio psicológico.

Com o passar dos anos, Flora passou a fazer um tratamento chamado “terapia-alvo”, que é baseado em mapeamento genético. Cada caixa de medicamento custa cerca de R$ 6 mil, e são necessárias duas por mês. Graças a uma decisão judicial, o plano de saúde está arcando com os custos. Cris e Guto também destacam a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) no tratamento de Flora e alertam para a falta de apoio social a muitas mães que, sozinhas, enfrentam a difícil jornada nos hospitais.

O neurocirurgião pediátrico Márcio Marcelino, responsável por várias cirurgias de Flora, enfatiza a importância do diagnóstico precoce. Ele explica que, quando o tumor é detectado nas fases iniciais, a cirurgia é mais eficaz e as chances de um tratamento bem-sucedido aumentam significativamente. O avanço da ciência tem sido crucial, permitindo que tratamentos cada vez mais eficazes sejam aplicados, com base em subtipos geneticamente determinados dos tumores.

Apesar dos desafios, Flora, com seu espírito vibrante, continua a ensinar a todos ao seu redor sobre resiliência e a importância de se manter forte e alegre, mesmo diante das adversidades. A mãe, inspirada pela força da filha, compôs um hino de levante feminista, que diz: “resistência em mim se acendeu”. Flora, mesmo tão pequena, tem mostrado que a luta contra o câncer é também uma luta pela vida, e que cada dia é uma oportunidade de sorrir, tagarelar e seguir em frente.