Em resposta à recente escalada de tensões diplomáticas, o Palácio do Itamaraty divulgou nesta sexta-feira (1º) uma nota oficial manifestando surpresa e repúdio ao tom ofensivo adotado por autoridades venezuelanas em relação ao Brasil. O comunicado ocorre após a Venezuela convocar seu embaixador no Brasil para consultas, em protesto contra declarações de Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República. A chancelaria venezuelana também chamou o Encarregado de Negócios brasileiro em Caracas para expressar seu descontentamento.
A crise entre os dois países foi intensificada pelas acusações do presidente Nicolás Maduro, que responsabiliza o Brasil por um suposto veto à entrada da Venezuela no Brics, bloco composto por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. Segundo Maduro, o chanceler brasileiro Mauro Vieira teria assegurado que o país não impediria o ingresso venezuelano. Entretanto, em audiência pública na Câmara dos Deputados, Amorim afirmou que a decisão sobre novos membros do Brics foi tomada por consenso entre os países fundadores, negando qualquer veto por parte do Brasil.
Na nota oficial, o Itamaraty reforça que “a opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e seu povo”. O comunicado destaca o compromisso do Brasil com a não-intervenção e o respeito à soberania dos países vizinhos. O Brasil tem acompanhado de perto o processo eleitoral venezuelano como testemunha dos Acordos de Barbados, que preveem garantias de transparência nas eleições venezuelanas.
As tensões foram acirradas com a publicação de uma imagem provocativa nas redes sociais pela Polícia Nacional Bolivariana, que mostrava o rosto de Lula borrado ao lado da frase “El que se meta con Venezuela se seca” (“Quem se mete com a Venezuela se ferra”). A postagem, posteriormente removida, gerou reações negativas e amplificou o desgaste diplomático entre as nações.
Em declarações transmitidas pela TV estatal, Maduro criticou o Itamaraty, sugerindo que a diplomacia brasileira tem alinhamentos com o Departamento de Estado dos Estados Unidos. O presidente venezuelano também acusou o secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Eduardo Saboia, de ser o responsável pelo veto à Venezuela.
A posição oficial do governo brasileiro é de que os princípios de diálogo e respeito mútuo são essenciais para manter as relações com a Venezuela e os demais países da região, especialmente em um momento de complexidade geopolítica como o atual.