Erro em laudos de HIV leva à prisão de sócio do PCS Lab Saleme

© Fernando Frazão/Agência Brasil

 

Walter Viera, sócio do laboratório PCS Lab Saleme, afirmou em depoimento à polícia que uma falha humana na transcrição dos resultados dos testes de HIV pode ter causado a emissão incorreta de laudos, o que resultou na infecção de seis pessoas após transplantes no Rio de Janeiro. Segundo Viera, uma sindicância interna do laboratório indicou que dois doadores, erroneamente classificados como negativos para o HIV, eram, na verdade, positivos para o vírus.

Defesa nega esquema criminoso

Em nota divulgada nesta segunda-feira (14), o laboratório confirmou os indícios de falha humana e negou a existência de qualquer esquema criminoso para forjar resultados. “A defesa de Walter Viera e de Mateus Vieira, também sócio do laboratório, repudia com veemência as acusações e acredita que a Justiça entenderá ser desnecessária a manutenção da prisão de Walter”, declarou a empresa.

Mateus Vieira, que se apresentou voluntariamente à polícia, foi liberado e garantiu que irá depor após sua defesa ter acesso integral aos autos do processo.

A nota também mencionou que Jacqueline Iris Bacellar de Assis, cujo nome aparece em um dos laudos, apresentou documentos falsos – incluindo diploma e registro profissional – induzindo o laboratório a acreditar que ela tinha habilitação para assinar laudos. O advogado de Jacqueline não respondeu aos contatos da reportagem até o momento.

Investigações em andamento

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) investigam as circunstâncias que levaram às infecções. O caso, considerado grave e sem precedentes, está sendo acompanhado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelas vigilâncias sanitárias estadual e municipal, e pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Ministério da Saúde.

Por orientação da Anvisa, o PCS Lab Saleme foi interditado pela Vigilância Sanitária local até que as investigações sejam concluídas. Como medida preventiva, novos exames pré-transplante estão sendo realizados no Hemorio para garantir a segurança dos procedimentos.

Relações institucionais sob escrutínio

O laboratório, que presta serviços para a Fundação Saúde do governo estadual, possui pelo menos três contratos com a fundação, responsável pela gestão das unidades da rede pública de saúde. Um dos sócios do PCS Lab é parente do deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ), ex-secretário estadual de Saúde.

Em nota divulgada na última sexta-feira (11), a assessoria do parlamentar esclareceu que ele não teve participação na escolha do laboratório durante sua gestão. Dr. Luizinho ocupou o cargo de secretário de Saúde entre janeiro e setembro de 2023.

Apoio às vítimas

O laboratório garantiu que, assim que tiver acesso oficial à identidade das vítimas, fornecerá suporte necessário a elas. A empresa também reafirmou que segue colaborando com as autoridades envolvidas nas investigações e destacou que, nos últimos 12 meses, realizou mais de 3 milhões de exames. Desde dezembro de 2023, foram adquiridos 900 testes para diagnóstico de HIV seguindo as recomendações do Ministério da Saúde e da Anvisa.

A investigação do caso continua em andamento, com foco na segurança dos transplantes e na identificação das falhas que permitiram a ocorrência das infecções.