Lula critica acordos climáticos não cumpridos e promete erradicação do desmatamento ilegal até 2030

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Presidente brasileiro cobra ação global urgente contra a mudança climática e pede justiça econômica para países pobres em discurso na ONU.

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao abrir o debate de chefes de Estado da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nesta terça-feira (24), destacou a interdependência dos países na questão climática e expressou o cansaço do planeta em relação a acordos não cumpridos. Ele reforçou o compromisso do Brasil de erradicar o desmatamento ilegal até 2030 e criticou o ritmo lento da transição energética global.

Lula mencionou tragédias recentes ligadas à mudança climática, como furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas na África e enchentes no Brasil, afirmando que “o planeta já não espera” por soluções futuras. “O mundo está farto de metas de redução de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que nunca chega”, destacou.

Brasil e a Amazônia
O presidente ressaltou que a Amazônia vive sua pior seca em 45 anos e que o Brasil perdeu 5 milhões de hectares para incêndios florestais apenas em agosto de 2023. Ele reiterou que seu governo não terceiriza responsabilidades e prometeu combater o garimpo ilegal e o crime organizado que lucram com a degradação ambiental. “Reduzimos o desmatamento na Amazônia em 50% no último ano e vamos erradicá-lo até 2030”, afirmou.

Lula também enfatizou a importância de ouvir os povos indígenas e comunidades tradicionais na busca de soluções sustentáveis para as florestas tropicais, apontando o potencial da bioeconomia como caminho a ser explorado.

Desigualdade Global e Dívida dos Países Pobres
Em seu discurso, Lula criticou o desequilíbrio econômico global, comparando a atual dinâmica de empréstimos internacionais a um “Plano Marshall às avessas”, em que os países mais pobres financiam os mais ricos. Ele defendeu que instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial devem representar melhor os países em desenvolvimento e insistiu na necessidade de padrões mínimos de tributação global para os super-ricos.

Lula destacou que 9% da população mundial (733 milhões de pessoas) sofre de subnutrição e denunciou a crescente disparidade entre os lucros bilionários de grandes corporações e o aumento da pobreza global. “Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora”, criticou.

Governança Global e Conflitos Armados
O presidente também abordou os desafios da governança global, pedindo a reforma da ONU para enfrentar as crescentes tensões geopolíticas e rivalidades estratégicas. Lula manifestou preocupação com o aumento dos gastos militares mundiais e lamentou a falta de perspectiva de paz em conflitos como o da Ucrânia e os confrontos no Oriente Médio, em especial na Faixa de Gaza.

Ele encerrou seu discurso propondo uma governança global para a inteligência artificial, a fim de garantir que seus benefícios sejam compartilhados de forma equitativa e utilizados para promover a paz, e não a guerra.

Debate Geral da ONU
A Assembleia Geral das Nações Unidas é um dos principais órgãos da ONU e reúne os 193 Estados-membros. Tradicionalmente, cabe ao Brasil fazer o primeiro discurso. Este ano, o tema do debate é “Não deixar ninguém para trás: agir em conjunto para o avanço da paz, do desenvolvimento sustentável e da dignidade humana para as gerações presentes e futuras”.

Esta é a nona vez que Lula abre a sessão de debates da Assembleia Geral, reforçando o compromisso do Brasil com a luta contra as mudanças climáticas, a redução das desigualdades e a reforma das instituições globais de governança.