Gastos com apostas esportivas online afetam economia

Foto de Emilio Garcia na Unsplash

 

O aumento exponencial dos gastos com apostas esportivas online, conhecido como “bets”, está impactando negativamente o consumo de mercadorias e serviços, especialmente entre as classes socioeconômicas de menor poder aquisitivo no Brasil. A análise, conduzida pela empresa PwC Strategy& do Brasil, revela que esse fenômeno está alterando a percepção sobre a melhora econômica do país, refletida em índices como o aumento da renda, o crescimento da ocupação e o controle inflacionário.

Impactos Econômicos das Apostas

Gerson Charchat, economista e sócio da Strategy& do Brasil, destaca que os gastos com apostas esportivas superaram outras despesas discricionárias, como lazer e cultura, e até mesmo estão começando a afetar o orçamento destinado à alimentação. De acordo com Charchat, “esse desvio de recursos para as apostas exerce uma pressão considerável sobre a demanda por produtos essenciais, afetando a dinâmica da economia de forma geral.”

Desde a aprovação da Lei nº 13.756 em 2018, que regulamentou as apostas esportivas, o Brasil tem visto um crescimento impressionante nos gastos com esse setor — um aumento de 419% entre 2018 e 2023. Em 2018, as apostas representavam 0,27% do orçamento familiar das classes D e E; hoje, esse percentual subiu para 1,98%. Em contraste, os gastos com lazer e cultura diminuíram de 1,7% para 1,5% do orçamento familiar, enquanto os gastos com alimentação permaneceram estáveis.

Consequências Sociais e Econômicas

A análise da Strategy& do Brasil também revelou que a percepção de dificuldades financeiras entre a população cresceu cinco pontos percentuais entre 2022 e 2024, com 20% dos brasileiros relatando dificuldades para pagar suas contas mensalmente. A economista Ione Amorim, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), alerta para o aumento de problemas sociais e de saúde mental relacionados ao vício em apostas. “O problema escalou, gerando suicídios, destruição de lares e endividamento extremo,” afirma Amorim. Ela ressalta que a falta de educação financeira torna as pessoas mais vulneráveis a riscos financeiros associados às apostas.

Desafios e Regulação

Atualmente, não há dados precisos sobre o número de empresas que administram plataformas de apostas no Brasil ou sobre o volume de dinheiro arrecadado. Esses números só serão conhecidos após a obtenção da autorização do Ministério da Fazenda para a exploração comercial e o início da arrecadação de tributos. O Projeto de Lei nº 2.234/2022, em tramitação no Senado, propõe a legalização de cassinos, bingos, jogo do bicho e apostas em corridas de cavalo, o que pode potencializar os efeitos negativos das apostas esportivas.

A economista Ione Amorim destaca que a regulamentação das apostas deve ser feita com cautela, pois, além das receitas esperadas, é crucial considerar os impactos negativos, como o aumento das despesas com segurança pública e saúde mental.

Enquanto a regulamentação e a exploração comercial das apostas online aguardam autorização oficial, a sociedade enfrenta um panorama de crescimento acelerado nas despesas com apostas, impactando a economia e a qualidade de vida de muitos brasileiros.